Categories: Rosângela Maluf

Passando roupas (Deus nos livre!)

Rosangela Maluf

Em pleno século XXI, somos continuamente bombardeados com novidades de toda espécie!

Resumindo, temos robozinhos que varrem a casa, a Alexa, com quem você consegue falar o que quer, GPS que te orienta pelos caminhos mais tortuosos, e o celular que faz Pix, depósitos, pagamentos e transferências. Há QR Codes e incontáveis outras facilidades que, em muito, simplificam nossa vida.

Controles remotos, TAGs para portarias e portas (aquelas pretinhas, ovais). Há câmeras por todos os lados, monitorando (ou vigiando) tudo que se passa nas ruas, nos bares, restaurantes, shoppings, exposições e até mesmo dentro das nossas próprias casas!!!

Poucas coisas são capazes de me revoltar, de me tirar do sério, mas, num momento em que o homem volta à Lua, pousa em Marte, visita Júpiter, toma café “com” Vênus e propicia aos terrestres passeios pelas galáxias, eu me recuso a acreditar que, nestes tempos tão modernos, roupas ainda precisem ser passadas.

Para quem, como eu, tem faxineira apenas uma vez por semana, é preciso saber se organizar para manter a casa limpa e bem cuidada. Tenho três gatos que também precisam de limpeza, além de ração e água repostas todo dia, cuidado para evitar pelos pela casa, e a vassoura & pano de chão para deixar tudo em ordem. Ufa!

Adoro minha casa limpa, impecável, arrumadinha… para mim!!

Sem a menor preocupação com visitas, vai sempre estar tudo do jeito que gosto e que me faz feliz. Sou (só um pouco) neurótica e jamais alguém encontrará uma colherzinha de café na pia. Lavo tudo, sem a menor preguiça.

Ainda tenho a tarefa de regar, dia sim, dia não, meus 14 vasos; tirar as folhinhas mortas, podar o que já não está tão bonito, fofar a terra, repor adubo e organizar as pedrinhas para enfeitar os vasos. Tarefas que adoro.

Agora, vamos sair do paraíso em direção ao inferno:

– Troco roupa de cama e de banho de 15 em 15 dias;

– Na sexta-feira, coloco os jogos limpos e cheirosos e recolho os usados; certamente, lavarei tudo na segunda-feira;

– Coloco na máquina, tendo antes preenchido os compartimentos de sabão em pó e amaciante com meu perfume preferido;

– Organizo as peças, ajusto o volume de água e o tipo de lavagem para a roupa (pouco suja, suja ou muito suja);

– Ligo a máquina e só volto quando ela tiver centrifugado a última gota de água;

Aí começa a segunda etapa do inferno:

– Abaixo o varal, separo os prendedores, de madeira ou de plástico (que sempre se quebram na hora que mais precisamos); começo a irritante distribuição das peças: grandes, médias, pequenas, muito pequenas…

– As que mais me irritam são aquelas que merecem um cuidado maior: devem ser bem esticadas, ajeitadas no varal para que nem precisem ver o ferro de passar;

– É um momento tão chato que eu, que ouço música o dia inteiro, desligo o Spotify – não quero nada, nenhum som!

– Tudo começa pela manhã e, se o tempo estiver bom, de tardinha as roupas já estarão secas;

O inferno ainda continua, parte três:

– Tiro cada peça do varal, dobro direitinho para que algumas fiquem beneficiadas e não precisem ser passadas a ferro;

– Pacientemente, dobro uma por uma, separo por utilidade (cama, rosto, mesa, alguma peça minha);

– Levo todas para o armário até que crie coragem de passar toda a roupa, o que não deveria demorar muitos dias – mas demora.

Dependendo da minha vontade, posso até passá-las no início da semana, geralmente na terça-feira. Não sou de procrastinar nada, mas preciso confessar que esta minha qualidade não se aplica à “passação de roupas”. Um belo dia, decido resolver essa pendência.

Para simplificar, não irei explicar detalhadamente, mas segue a continuação do inferno, já na quarta etapa, sintetizada em um resuminho:

Coloco o cobertor e o forro onde serão passadas as roupas. Procuro o ferro e o borrifador de amaciante. Procuro a extensão do fio. Ligo o ferro no mínimo. Enquanto isso, vou dobrando as toalhas de banho, rosto e mesa.

Em seguida, outra pilha com os lençóis: o de elástico me causa desmaios e arrepios, pois NUNCA consigo dobrá-lo; um castigo. Mesmo assim, ele não terá o prazer de ser colocado arrumadinho no armário. Dobro do jeito que dá. O lençol é dobrado, e só umas passadinhas de um lado e do outro. Com capricho, passo as duas fronhas – um capricho só. E só…

As roupas de vestir são uma tragédia à parte: adoro linho, e nada pode ser pior do que passar uma peça que mais amarrota do que fica lisa. Mas dou um jeito! Vestidos e camisas são complicados; você passa de um lado, eles amassam do outro.

Pensa que a agonia acabou?

Depois de tudo passado/dobrado, é hora de separar antes de guardar. Seria a quinta parte do inferno? Desligo o ferro, deixo esfriar, mas enrolo a extensão. Dobro o cobertor e a toalha sobre os quais passei a roupa.

Vamos, então, guardar: nos armários, gavetas, prateleiras, e só assim termina essa novela infernal.

Pensa que acabou? Não acho a caixa onde guardo o ferro nem a caixinha onde coloco enroladinho o fio da extensão.

No armário 1, coloco embaixo todos os lençóis de elástico; na prateleira do meio, os lençóis e as fronhas; e em cima as toalhas de mesa.

Ainda não acabou… as roupas de vestir são penduradas por modelos e por cores: todas as camisas de manga comprida, as blusinhas de manga curta e as camisetinhas. Do branco até as cores mais escuras, como azul-marinho e preto. Aquelas que não amarrotam são enroladinhas e colocadas em outra gaveta.

Nem vou descrever tudo até o final para não desgostar minhas leitoras (e meus leitores… homens passam roupas também!)

O fato é que, ao terminar tudo que contei aqui, preciso de um banho bem quente, para que a água caia nas costas, que estão em pandarecos. Depois do banho, meio sonolenta e morta de cansaço, tomo um café ou um chá e me deito.

Antes, rezo pedindo que os cientistas sejam iluminados e consigam, em curto espaço de tempo, criar um tecido que não precise ser lavado, nem enxaguado, nem centrifugado, nem secado, nem dobrado, nem guardado, e muito menos passado.

Amém!

Blogueiro

View Comments

  • Oi Rosângela sou seu conterrâneo, adoro ler seus textos.

    Uma máquina lava e seca vai minimizar um pouco esse sofrimento...

    Fleming
    Sou filho do Sr Simões

  • Sonho com este dia também!!! Tenho um ponto a favor: onde moro quase não usamos roupas que precisem ser passadas!! Sonho com uma máquina que lave, seque e dobre as roupas!!!!

  • Já passei desta época de passar roupa
    Só passo quando vou vestir
    Cama banho e mesa .
    Não passo
    Do compro que não precisa passar.
    Ferro é um inferno,
    Quando vejo no armário tenho vontade de jogar pela janela ODEIO
    BJINHOS

  • Cansei só de ler.
    Tenho faxineira de 15/15 que faz tudo incluive lava e passa eu mantenho a limpeza pois uso só meu quarto, banheiro e cozinha.
    Não me imagino sem passar roupas mas vou aprender pois nem tudo é para sempre

  • Adoro passar roupas. É um momento mágico na minha vida. Ouço música, às vezes uma boa palestra, e por vezes apenas o silêncio e a meditação. O resultado é incrível!! A roupa muito bem passada, uma gratidão gigante dentro da alma, a sensação de missão cumprida.Amo passar linho. O cheirinho de roupa passada é muito especial. E o orgulho? Grita alto. Narcisismo, ou vaidade mesmo. Como sou "phoda" na passação!

  • Passar a roupa para mim é um prazer, pois ligo a tv e vou assistindo e passando. Olha que eu levo 4 horas por semana. O que ne estressa é o pelo dos dois cães pela casa

  • Que sofrimento Rosa!! Também concordo passar roupas e uma chateação. Uso muito vaporeto com as pecas penduradas aínda no varal e cabides.

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