Wander Aguiar
Quando decidi fazer o Caminho de Santiago de Compostela, mergulhei em leituras e estudos sobre o que me aguardava. Logo percebi que, para muitos, essa jornada é uma poderosa metáfora da vida, e posso afirmar, sem hesitação, que realmente é!
Todo caminhante tem um propósito: seja espiritual, de autoconhecimento, de busca por respostas ou uma combinação de tudo isso. No meu caso, buscava um pouco de cada e, no fim, encontrei muito mais do que esperava.
A decisão de partir e o primeiro dia de caminhada podem ser comparados ao nascimento: somos lançados ao desconhecido, despreparados, inocentes, vulneráveis e cheios de incertezas. Mas, como em um passe de mágica, a vida exige que cresçamos. Somos empurrados à fase adulta, e tudo o que lemos, estudamos e vivemos passa a ser colocado em prática, aproximando-nos do verdadeiro sentido da existência.
Na fase adulta do Caminho, percebemos que a mochila deve ser o mais leve possível, contendo apenas o essencial. Isso alivia o corpo e torna a jornada menos árdua. Nessa reflexão, compreendi que, na vida, também não precisamos carregar o que não nos traz conforto ou felicidade. Com essa descoberta, comecei a me afastar de pessoas e situações que há muito tempo não me acrescentavam.
Ao longo do caminho, encontramos pessoas com histórias incríveis, que gostaríamos de manter para sempre em nossas vidas. No entanto, dias depois, elas se vão, talvez para nunca mais as revermos. Essas despedidas nos ensinam a valorizar cada momento ao lado de quem amamos, pois a vida é feita de encontros e despedidas constantes.
Um dos símbolos mais marcantes do Caminho são as pedras deixadas ao longo da trilha. Em diversos trechos, vemos pilhas de pedras, representando obstáculos superados e pesos que decidimos deixar para trás. Eu aguardava ansiosamente por esse momento, e ele chegou de forma inesperada. Em uma de minhas reflexões, peguei uma pedra e a depositei em uma pilha, simbolizando o fim de uma questão que me incomodava. Ao me levantar e retomar a caminhada, senti um alívio profundo, como se realmente tivesse deixado um peso para trás.
As bolhas nos pés — que contei em outro texto — são como as adversidades da vida: surgem, incomodam, mas precisam ser tratadas com cuidado para que possamos seguir em frente.
E, por fim, a chegada à Basílica representa o término do Caminho. Contudo, diferente da morte, esse fim traz uma oportunidade de renascimento. Carregamos conosco os aprendizados daqueles dias e a chance de viver de maneira mais leve, enriquecida pela jornada.
Essa reflexão me faz lembrar do filme The Way – O Caminho, que tantas vezes assisti e não me canso de ver várias e várias vezes, porque ele me traz alento e reavive minha caminhada de fé em busca de algo, ou melhor, de alguém que ao mesmo que está distante está mais perto de quando abracei a fé. Esse alguém que busca nessa jornada da vida não é uma utopia, não é um modo de vida, não é um sonho distante; mas sim uma PESSOA, que nasceu, viveu, morreu e ressuscitou e que é nosso Caminho, nossa Verdade, nossa Vida. E essa pessoa tem um nome que está acima de todo nome: JESUS CRISTO.