A foto capturada no dia 12 de outubro de 2024 do Congresso Nacional faz uma bela oposição àquela veiculada até 8 de janeiro de 2023. Na atual, contrapõe-se o caos e a desordem da anterior. Um pescador mergulha sua vara de pescar no espelho d’água, ou lago estilizado, projetado com o aval do arquiteto Niemeyer. Duas garças presentes ali são testemunhas da paz na cena. Elas parecem amiguinhas do homem e ficam na espreita, na esperança de conseguir alimento.
O Congresso Nacional é a sede do Poder Legislativo, e a obra também fez parte da inauguração da nova capital brasileira – Brasília, um marco de 1960. Atualmente, oferece uma visita guiada que se inicia no Salão Verde, onde estão obras como “Anjo”, do artista Ceschiatti. Conforme o guia, essa obra foi um modelo para os anjos da Catedral de Brasília. O protótipo é de bronze, e os da Catedral são de um material mais leve. O painel de Athos Bulcão cria um fundo harmonioso e, ao longo do espaço, há um jardim interno projetado pelo paisagista Roberto Burle Marx. Outra obra de grande impacto no mesmo salão é “Candangos”, de Di Cavalcanti, uma pintura feita em homenagem aos trabalhadores que construíram Brasília. A obra tem mais de 8 metros de comprimento. Curiosamente, Di Cavalcanti enviou a pintura sem assinatura, prometendo fazê-lo quando visitasse a capital, mas a obra ficou sem sua assinatura.
Há obras que estão ali desde a inauguração do Congresso, e outras foram incorporadas após 8 de janeiro. O artista plástico Vik Muniz doou ao Senado um painel onde aparece a “reconstrução” do Congresso Nacional. Digo “reconstrução” devido ao material utilizado: Muniz fez uso dos estilhaços das depredações ocorridas naquele dia. É uma arte que mantém viva a memória da resiliência da democracia brasileira.
Percorrer as galerias entre as câmaras dos Deputados e do Senado é como entrar em uma reportagem e seguir os passos de nossos políticos. Emocionar-se diante das belas salas e desejar boas orientações para aqueles que frequentam esses espaços faz parte dos votos dos visitantes.
O espaço destinado à exposição/memorial de 8 de janeiro estava fechado para reforma de sua pintura. Tudo indica que o valor e a força da democracia brasileira serão um dos grandes atrativos de Brasília. O horror e as cenas de selvageria que ficaram em nossas mentes, comparados à paz do pescador e suas garças, são conquistas do povo e fortalecem nossas memórias e nosso direito público.