Silvia Ribeiro
Do que as palavras podem contar falo de amor.
E todas as vezes que eu precisei deixar o meu sangue fluido, a minha tez vivaz, e a minha poesia excitante, eu amei.
Foi amando que eu me senti aceita, que eu fiz o meu altar, e que eu coloquei beleza no meu sorriso. E não me incomoda se alguém discorda ou prefere ter os braços vazios.
Pra muitos praticar esse ato tem a ver com um desperdício que não deixa dormir, um sacrifício irremediável, e um lugar que distancia a razão e o coração.
Um mal-estar crônico que incapacita a nossa clareza afetiva e que deixa a vida à beira de um precipício.
Tem gente que não consegue enxergar à sua volta significados pra fazer o peito explodir, pra deixar a alma criativa, e as pernas bambas.
Que não romantiza os fetiches, que não guarda a memória de um olhar, e que não cabe dentro de um final feliz. Preferem um trampolim de uma desconstrução de coisas que sequer se experimentou.
Me cansei dessa gente.
Já passei muitas noites em claro precisando de um cafuné, de um papo que arrepia o corpo, de um beijo que ninguém copia. E no melhor dos momentos, uma transa que me fizesse sentir saudades pra sempre.
Aprendi que tenho trilhões de motivos pra ser amada e pra amar, me comportar como uma menina travessa e oferecer o prazer de uma mulher. E quero essa troca brincando no meu quarto porque já passei tempo demais vendo filmes sem ação.
Minha vontade é esquecer aquele cheiro bom que ele tem, aquela gargalhada que me deixa feliz da vida, aquela canção que eu ouvi no rádio do seu carro. E cruzar os dedos pra que nenhuma outra lembrança venha me fazer companhia.
Talvez o acaso possa fazer algo por mim e me faça pensar que ele é apenas um cara desses que topamos ao dobrar uma esquina. Um cafajeste em uma mesa de um bar qualquer, um sem nome que não sabe nada de bem-querer, ou verdadeiramente um super-homem em fim de carreira.
Mas ele não é.