Wander Aguiar
A saga do retorno à academia começou em um dia que prometia ser normal — ou tão normal quanto pode ser depois de quase 200 dias de sedentarismo e nenhuma gota de chuva. Eu estava determinado, com fones de ouvido e uma garrafa d’água, pronto para suar. O clima decidiu colaborar comigo… mais ou menos. Justamente quando comecei a primeira série de exercícios, o céu desabou e veio uma chuva daquelas de fazer Noé reconsiderar sua aposentadoria.
Para completar o espetáculo, a luz da academia piscou duas vezes, como quem dá um tchauzinho, e apagou de vez. No escuro, eu esperava ver pânico, correria, pessoas desesperadas… Nada disso. A galera continuou, como se fosse rotina fazer leg press sem enxergar os pesos. “Se eles continuam, eu também continuo”, pensei, confiante, ignorando o bom senso.
Com os fones de ouvido isolando o caos, continuei firme, focado na malhação. O som da minha playlist estava tão alto que eu não percebi que a academia foi se esvaziando. Eu estava de costas, fazendo meus exercícios com a maior tranquilidade, me achando o Rocky Balboa do apocalipse.
Quando finalmente decidi virar para ver se ainda tinha alguém, a academia estava vazia. Um vácuo absoluto. Só eu e o eco dos meus fones. Aí bateu aquele mini-desespero: “Será que vou ficar preso aqui?”. Desci as escadas correndo e, lá embaixo, a funcionária da academia estava fechando a porta. Por pouco não virei morador da academia, com uma dieta eterna de suplementos e barras de proteína.
Cheguei em casa pensando que o pior tinha passado, mas a vida tinha outras ideias. No último degrau da escada do prédio, a luz que estava acesa até então se apagou. De volta ao breu. Cheguei ao meu apartamento tateando e, quando abri a porta, fui recebido pelo meu grande prêmio: uma área de serviço alagada. A faxineira tinha limpado tudo, mas a janela estava aberta e a chuva transformou meu chão em um pequeno lago. Fiquei sem luz até por volta de meia-noite. Quando finalmente voltou, fui conferir o “pequeno vazamento” que a faxineira tinha mencionado. Dei descarga e, adivinhem, uma enxurrada de água emergiu no piso do banheiro. Definitivamente, aquele não foi meu dia!
Moral da história? Voltar para a academia pode até ser bom para o corpo, mas nada prepara a gente para o caos que se segue.