Escrita

Sandra Belchiolina

Quarta-feira, manhã, quase tarde, minha crônica já deveria estar pronta para ser publicada amanhã. Mas, quase nunca elas estão nesse horário. Espero o último bater do sino. Ai, ai! E me ponho a pensar…

O que me faz escrever toda semana e, especialmente, para uma postagem de quinta-feira, às 07h00, em um blog? A resposta não pode ser outra além do desejo pela escrita. Um desejo, no mínimo, estranho, pois é um compromisso assumido simplesmente para deixar as palavras caírem no papel. Quando aceitei a proposta, coloquei como condição única a liberdade para escolher o tema. Não ter direcionamento, entendem?

Outro motivo possível é a comunicação/interação: escritor/texto e texto/leitor. E aí vejo um paradoxo porque, como agora, mesmo tendo milhões de boas e ruins ideias que poderiam resultar em uma crônica, eu não quero estruturar nada. Penso que seja o desejo do silêncio – um significante precioso para mim.

Observei, ao longo desses anos e nessas contínuas quintas-feiras em que estou presente no Blog Mirante, do portal UAI, que quanto mais preciosos são o tema ou o sentimento para mim, mais fico embotada para escrevê-los. Coloco as letrinhas em banho-maria, e ali ficam. Ora sai algo, ora não. O que não tem problema nenhum. E, é claro, isso está ligado ao cuidado e apreço com a temática. Há um superego censurador operando e exigindo uma boa elaboração textual. Nem digo perfeita. Boa já estaria bom demais. Boa-bom – seria isso uma cacofonia? Talvez para a poesia não seja.

Poesia é um dos recursos que adoro. Palavras, significantes que ecoam em dizeres e sons. Ecos com enigmas e nas entrelinhas da escrita. Essa aberta para ecoar no escritor e no leitor. Lacan esclarece que o enigma é uma enunciação da qual não se acha o enunciado.

Enfim, desvelo hoje minha luta com as palavrinhas. Boa luta! Um desafio que eu aceitei e que está em produção, no caminho, e durando. Algumas crônicas ou poesias eu gosto, outras acho chinfrim. Já censurei algumas e, depois, passei a gostar; e vice-versa. Houve momentos da minha vida, especialmente nos períodos escolares da infância e adolescência, em que cheguei a negar a escrita, as redações. Tenho casos ou causos hilários dessa época. E foi aceitando meus textos imperfeitos e, às vezes, com erros gramaticais (isso eu contei baixinho) que me liberei para a concretude da palavra.

Como diz um amigo letrado (bom significante, né?): o importante é escrever!

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