Gabriela Pedrosa
Recentemente, iniciei a leitura do livro Mulheres que Correm com os Lobos de Clarissa Pinkola Estés e um trecho me marcou profundamente:
“Uma das questões menos discutidas a respeito do processo de individuação é a de que, à medida que se lança luz sobre as trevas da psique com a maior intensidade possível, a sombra, onde a luz não alcança, fica ainda mais escura. Portanto, quando iluminamos alguma parte da psique, disso resulta uma escuridão mais profunda com a qual temos que lutar.”
Refletindo sobre essas palavras, percebi como, às vezes, a luz nos chega através de pessoas ou situações que, de alguma forma, nos revelam partes nossas obscurecidas e que ainda precisam ser percebidas, exploradas, reconhecidas, acolhidas, cuidadas e ressignificadas.
Afinal, a tomada de consciência muitas vezes é acompanhada da desconstrução da máscara, do personagem, da autoimagem construída por tantos anos, durante tantas fases e que, de alguma forma, nos protege, mas, de outra, nos impede de reconhecer ou ver emergir a nossa essência.
O mergulho nas profundezas do nosso ser pode nos fazer deparar com a nossa fragilidade, impotência, insegurança, ambivalência, com escuridão. Ele pode vulnerabilizar, esvaziar. Pois como ressaltou Clarissa, “O trabalho mais profundo é geralmente o mais sombrio”.
Mas, ao mesmo tempo, os passos dados na direção das nossas sombras nos permitem descobrir a verdade que pulsa em nosso interior, reconhecer os nossos padrões, as nossas lacunas, faltas e mais essenciais necessidades.
A luz, o autoconhecimento, pode ser libertador. Ele pode nos permitir tomar consciência das nossas repetições inconscientes para que possamos fazer diferente, construir uma nova história, caminhar com mais convicção dos passos que queremos dar.
Como aprendi com Clarissa, ela nos permite urbanizar os terrenos psíquicos mais pobres para ter uma visão mínima de quem realmente somos.