Silvia Ribeiro
Dificilmente confidencio minhas lutas.
Talvez por andar distraída demais com a vida que eu quero ter, com as novidades que eu quero aprender, com as estradas que eu quero percorrer. E quem sabe, por carregar um excesso de resiliência na minha bagagem.
Antes de mais nada, gosto de pensar nas aventuras que darão carona para os meus olhos, nas piadas que me farão gargalhar sem o mínimo esforço, e nas poesias que ainda vou parir para que um dia alguém possa chamar de saudade.
Comecei a gostar de ser desejada e de não dar nomes para as minhas emoções, de entender os corações que chegam para desaforar meu recato, de pensar em quem eu quiser no silêncio do meu quarto. E daquele sexo gostoso que me deixa com vocação pra ser a última das românticas.
Resolvi testar os meus limites. E a cada dia que vivo, mais penso em não economizar nos meus “agoras”, e tornar as minhas curiosidades mais liberais.
Quero ter tempo para uma preguicinha gostosa, ter um espaço enorme para os meus livros, minhas músicas, meus chocolates, meus incensos e os meus óleos de banho. Pensei até em comprar uma aquarela dessas bem baratinhas e sair por aí colorindo todas as pessoas acinzentadas que passarem na minha frente.
Estou com vontade de rejuvenescer meu jeans surrado, tirar as olheiras da minha infância, e aceitar todas as declarações de amor que me fizerem, mesmo que sejam puramente uma cena inventada.
Já passei por muitos dramas, já me abriram feridas sem anestésicos, já me deram a tarefa de ver grandes afetos partirem, e já tive que incorporar personagens que nada se pareciam com o que eu era por dentro.
Algumas dores de cotovelo eu achei que não iriam passar nunca, algumas amizades só existiram dentro da minha cabeça, certas histórias não passaram de um conto da carochinha. Diversas primaveras eu vi sem flores, inúmeras fotografias amarelaram antes do tempo, e vez ou outra o destino não foi gentil comigo.
Quando se trata de “viver”, nunca temos a sabedoria exata nem merecemos o prêmio de melhores do ano. E raras vezes, podemos acrescentar em nossa biografia algum registro que prove que já estamos sabidinhos — trocando em miúdos, mais evoluídos.
A verdade é que podemos nos entristecer por variadas razões…
E que podemos ser felizes sem razão nenhuma.
Somos frutos da árvore que cuidamos.
Por isso temos que semear boas sementes.
A essência do viver é exatamente este mistério.
Sem dúvida nenhuma.