Não é tristeza, não. É somente cansaço. Vontade de passar os dias de olhos fechados, afundada na cama, me fingindo de morta. Quero morrer não, menino… Deixe disso. Quero só me fingir de morta mesmo. Já falei que não estou triste. Tem depressão nenhuma não, visse? Tem exaustão. Fadiga. Lerdeza, talvez. Um desejo de me deitar numa grama sem nenhum sinal de civilização numa circunferência de uns 10 a 20 quilômetros, pelo menos. Sem telefone celular, sem internet, sem gente chamando, sem interfone, sem campainha. Só eu e a grama infinita, umas florezinhas aqui e ali, um céu de brigadeiro, escurecendo lentamente. Sim, é possível que eu quisesse morar – ou pelo menos passar umas férias – no cenário dos áudios de meditação do Spotify.
Sabe quantas vezes os avisos de mensagem apitam nesse maldito celular? Sabe quantas vezes o conteúdo dessas mensagens são cobranças inúteis, imperativas e autoritárias? E o pior é que outras tantas, que nem são cobranças, trazem indiretas, notícias ruins, ameaças disfarçadas de mensagens motivacionais ou fofocas sobre notícias ruins que os outros também recebem. Então, assim, estou mesmo esbodegada (eu acho que minha mãe usava essa palavra, que é simplesmente maravilhosa, e eu estou também morrendo de saudade da minha mãe).
Não sei desde quando me sinto assim. Talvez já seja muito tempo. Mas certamente não me sentia tão cansada aos 30 e acho que nem mesmo aos 34, quando tinha uma bebê que não dormia à noite e um trabalho que me solicitava pela manhã. Cheguei a pensar, inclusive, que fosse o peso dos anos vividos. Mas tenho visto pessoas de 20, 25 anos que também se sentem esbodegadas. E isso é inédito, não é, menino? Aos 25, eu me sentia ligada numa tomada de 220V.
O tempo está seco, não é? Dia sim, dia não, sinto cheiro de fumaça invadindo a janela do apartamento. Outro dia a serra ficou mais de 24 horas pegando fogo. Essa secura toda faz a gente se cansar, né? E talvez uma injeção de vitamina B também possa me dar uma levantada. Vou ver isso. Parei aqui, pra escrever essa crônica, e o whatsapp já tem 38 novas mensagens. O chat do trabalho também está bombando e… hoje é domingo.
Menino, eu estou extenuada. Só o pozinho da rabiola. Se descobrir onde fica o cenário que o povo descreve nos áudios de meditação do Spotify, me manda o endereço, por favor. Prometo desligar o celular antes de entrar. Talvez nem saia mais de lá, inclusive. É, não saio não. Vamos começar a contagem regressiva: 10, seus olhos estão pesados, bem pesados; 9, visualize um campo muito aberto, com a grama verdinha, flores pequeninas e uma grande abóbada celeste cobrindo todo o horizonte acima de você… Fui!
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