Os olhos da cara

Sandra Belchiolina 

O custo de vida do brasileiro, mesmo para as necessidades básicas, tornou-se mais desafiador nos últimos dois anos. Os valores de produtos, como combustíveis — tanto para o fogão (gás) quanto para o carro (gasolina e álcool) —, estão pela hora da morte. Uma expressão bem conhecida por quem já perdeu um ente querido. Mas foi enquanto passeava (praticamente é isso que fazemos atualmente) por um supermercado da Zona Sul de BH que a expressão “os olhos da cara” ecoou na minha cabeça. Fui pesquisar…

A expressão que denomina algo muito caro, com um preço elevado, tem origem nos costumes antigos. Os poetas da Grécia Antiga eram cegados. Reza a lenda que Tâmires foi castigado com a perda da visão pelas Musas, filhas de Zeus, por se declarar melhor cantor do que elas.

O mesmo ocorreu com Dáfnis, Teiresias, Estesícoro e Homero, que perderam a visão por causa da inveja que suas poesias provocavam nos reis gregos. Com suas fúrias, os reis castigavam os poetas pelo dom das palavras e o poder sedutor que elas possuíam.

Há outra versão que também completa o horror. Refere-se ao castigo dado aos inimigos pelos povos bárbaros, que arrancavam os olhos dos prisioneiros, deixando-os inofensivos e marcando o caráter de terror de suas práticas.

O crédito pela expressão vai ao dramaturgo romano Tito Mácio Plauto, um dos primeiros a utilizá-la em uma de suas peças.

Para nós, pobres mortais brasileiros, a expressão se traduz no horror ao enxergarmos os preços dos produtos, especialmente os de necessidades básicas para a sobrevivência.

Se na Grécia Antiga ser poeta lhes custava os olhos, ser brasileiro hoje nos custa o quê? Resiliência? Jeitinho brasileiro? Creio que não. Que tal começarmos pela educação e, entre os tipos de educação, pela educação política?

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