Tadeu Duarte
A vista da janela do meu quarto do hotel aqui em Brasília são outros três hotéis, modernos e refletivos.
Andar a pé pela capital federal observando sua arquitetura é uma experiência futurista e passadista.
É também viver a sensação de ser visto como doidinho de bairro, sendo o único pedestre no mundo dos carros, perdido em suas esquinas confusas com motoristas 22 e seus Porsches assassinos.
Quando Niemeyer projetou Brasília depois de secar sozinho uma garrafa de Jack Daniel’s numa infeliz noite de disfunção erétil, certamente não imaginava a quantidade de arquiteto Narciso que viria depois dele a inventar moda projetando prédios espelhados.
Brasília é o Triple S da Balenciaga. Inspirado nos tênis antiquados dos tiozões JK, criou-se um calçado modernoso e exclusivo, com um design improvável, audacioso, desconfortável e, sobretudo, caríssimo.
Tal como o Triple S, Brasília é uma grife que não é para o meu bico, pois não cabe no meu pé e bolso.
Aqui os shoppings começam com o pé direto alto e, na medida que os andares sobem, o teto diminui.
É como se você entrasse no BH shopping e, andares acima, chegasse na Galeria do Ouvidor já fedendo a fritura pastel de feira.
Os arrombados colocaram a praça de alimentação num espaço mais sufocante que o antigo cinema do Pampulha Mall e você é obrigado a se alimentar como se estivesse dentro do ônibus da linha São Bernardo – Glória em horário de pico.
Com o detalhe curioso das redes anti-suicídio instaladas para que os depressivos não atrapalhem o horário comercial.
A torre de Brasília também se adaptou e fez uma construção em seu entorno que impede que os moradores a subam depois de beber Red Bull e achar que criaram asas.
Por lei federal, aqui só é permitido morrer atropelado. Sorry.
Nas esquinas sem vida de BSB você não acha uma padaria, mercearia, farmácia ou buteco.
Não tem sequer um travesti gostoso e muito menos uma puta.
Em Brasília só existem os filhos dela.