Daniela Mata Machado

“Na vida tudo passa. Só Deus permanece.” Era o texto do quadro do colégio das irmãs, onde minha mãe estudou. Ela me lembrava desse quadro todas as milhares de vezes em que eu acreditava que não havia mais solução. Esta manhã, uma colega me disse: “Tudo na vida passa. Já, já tudo estará resolvido.” E eu me lembrei da minha mãe e do quadro do colégio das freiras. “Eram umas freiras de chapelão”, ela me contava. “Elas eram boazinhas e usavam um chapelão.”

Minha mãe perguntava se as freiras do colégio das minhas filhas também usavam chapelão. Não usam mais. “Elas estão mais modernas, né?”. É, mãe, o chapelão das freiras também passou. E passou o tempo do clube do Guarani. Lembra, mãe, do clube do Guarani? Passaram aquelas Copas do Mundo em que a gente botava uma camiseta amarela e você ia buzinando pelas ruas. Você adorava buzinar pelas ruas na Copa do Mundo, né? E nas campanhas políticas. “Viva Brizola!” Lembra, mãe, era o adesivo de Brizola de um lado do carro e o de Lula do outro porque a democracia era a pedra fundamental da nossa casa.

Tudo na vida passa. A minha colega me lembrou disso hoje. E passaram, um por um, todos os dias em que a dor era tanta que parecia que não ia passar nunca. Passou. O primeiro amor passou. O segundo amor passou. E, feito já garantia o poeta, o coração continua. Aquele trabalho que eu não queria mais, aquele lugar onde estava difícil morar, aquele namoro que já trazia mais tristeza do que alegria. Passou.

Passaram também os dias alegres da infância. A irreverência da adolescência. Os anos difíceis em que você, aos poucos, ia se despedindo de mim, mãe. Até isso passou. Às vezes parece que não passou. Mas passou, né? Feito o Menino Maluquinho, do Ziraldo, eu fiquei ali tentando segurar os ponteiros do relógio pra ver se não passava. Mas o Ziraldo também passou, mãe. Passou aí pro seu lado. Tudo passa. Um dia eu também vou passar, mãe. Aí pro seu lado. Me espera. Aqui as coisas vão passando. E eu te prometo não esquecer do quadro do colégio das freiras. Se eu esquecer, alguém me lembra. Tudo passa. A gente também vai passar.