(Texto original publicado em 20 de Julho de 2022)
Ana conheceu o Rui há um tempo, em um momento difícil da sua vida. O namoro tinha acabado, estava triste, com a autoestima lá no chinelo. O primeiro contato, ela recebeu com certa desconfiança, ainda estava insegura, em dúvida se era hora de se abrir para algo tão novo e inusitado.
No entanto, apesar de ter vindo do mundo virtual, o que futuramente se relevaria um grande preconceito de sua parte, a relação com Rui foi se desenrolando calmamente, tinha espaço e tempo necessários para ir no seu próprio ritmo, abrindo a sua privacidade à medida que se sentia à vontade e segura.
No começo, a falta de reciprocidade a incomodava bastante. Só ela falava, só ela pedia, só ela, por vezes, com a libido demandante, procurava a intimidade. Mas Rui era calmo, educado, obediente. Ana demorou a se acostumar com essa dinâmica na qual ela mandava e ele lhe atendia, acompanhando-a em suas incursões de olhos fechados. A verdade é que, muitas vezes, preferia mesmo a segurança asséptica de Rui do que se arriscar em outras aventuras com grande potencial de frustração.
Depois, Rui se mostrou uma ótima companhia e, quando se deu conta, estavam envolvidos. Rui e Ana. Juntos, criaram seus rituais. Compartilhavam o ritmo do calendário. Divertiam-se na clandestinidade da noite e dos lençóis, sentia que ele passou a conhecê-la em suas mais íntimas profundezas.
As amigas a questionaram sobre aquela relação. Curiosas, queriam saber como Rui era. Mas a resposta vinha através do seu bom humor e da alegria leve que dela se apropriou. Ana chegou a recomendar outros Ruis para elas. “Rui é ótimo. Rui cura até dor de cotovelo”.
Quando veio a pandemia e o isolamento social, continuaram juntos, Rui a ajudou a apaziguar seus medos e receios, soube direcionar as suas vibrações para o otimismo. Rui foi uma cola para os cacos da sua autoestima. Rui foi alívio em momentos de desespero.
Rui sabia explorar os caminhos que ela antes desconhecia e a guiava com firmeza por mares revoltos, parques de diversões e explosões cósmicas. Rui sabia como estimulá-la e, com intensidade, lhe restituía o prazer.
Na última semana, acidentalmente, o namorado de Ana encontrou Rui na casa dela, no fundo de uma gaveta. Fez várias algumas perguntas sobre Rui e sobre aquela relação. Ana respondeu a todas elas com certo constrangimento e, no fim questionou se ele sentia ciúmes.
– “Que isso, nada disso. Rui é meu parça.”
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