Palavras ao vento

Silvia Ribeiro

Como é difícil alcançar o coração das pessoas e deixar o nosso corpo por lá.

Durante algum tempo eu acreditei que algumas palavras facilitariam as coisas, e tiraria aquelas pedrinhas que ficam pelo caminho. Com um cristalino intuito de ferir os nossos pés e fazer disso uma obra de arte.

Me lembrei daquelas cartas que a gente escreve e deixa ali largada no fundo de uma gaveta, na esperança de que algum dia o destino se encarregue e faça chegar ao destinatário.

Até que, por alguma razão descobrimos que a maioria delas já foram amareladas pelo tempo e não fazem mais sentido. Os versos já não se conjugam no presente, as histórias já trocaram de roupa, e as pontuações não se esmeram mais em dizer o que havia dentro do peito.

E a partir daí já prevalece um devoramento das nossas lembranças. Os imensos “nós” que sonhamos vão deixando de ser plural e se calam.

É como se a vida tivesse interferido e viesse pra dizer adeus. As reticências se levantam pra que os pontos finais possam se sentar, e em torno disso habita um desacordo entre ficar e seguir.

Pensamos em colocar a saudade no silencioso e fazer um download de novos protagonistas. Mas até isso é considerado um risco pro nosso coração.

E como o destino não é nada bobo…

Lá vem ele com um novo colo que cedo ou tarde vai compactuar dos nossos anseios e deixar um novo sorriso no nosso rosto.

E pra que a vida volte a brilhar, um olhar alongado capaz de alcançar distâncias diz que vai ficar tudo bem.

E quanto as tais palavras?

Deixa pro vento.

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