Luciana Sampaio Moreira
Ser mulher neste mundo nunca foi fácil, mas pelo que tenho visto, está cada dia mais complicado. Para além da tentativa incessante de retirada de direitos básicos da nossa existência e sobrevivência, a padronização do que seja a tal “mulher de bem” configura-se como ameaça à liberdade de ser e estar do chamado sexo frágil.
Por motivos de curiosidade, acompanho diversos pastores evangélicos nas redes sociais. Todos respondem perguntas enviadas pelos fieis. Chama a minha atenção, de forma especial, como questões de foro íntimo e regidas absolutamente pelo bom senso são apresentadas para nesses espaços, sem qualquer pudor ou limite.
Até que ponto uma mulher precisa dessa ingerência externa em sua vida pessoal, sexual e familiar? Será que perderam o direito e a capacidade de decidir e de cuidar de suas vidas, sem a anuência de um homem, seja ele pai, marido ou pastor?
Sinto que estamos de volta à Inquisição, como as descendentes de Eva, a pecadora. Em função da salvação da alma e de um projeto de felicidade padronizado e, portanto, questionável e falível, muitas estão entregues a experiências nefastas de pura dominação de mentes e corpos.
O caminho de volta para quem se embrenhou – por obrigação ou por algum interesse – nesse trajeto que busca o passado como solução para os problemas do presente não será fácil. Casos de violência moral, física e sexual contra mulheres deixam sequelas para a vida toda. E haja terapia para elaborar tanto peso para a alma…
Quem não adere paga um preço alto. Que o diga a cantora Iza, que foi traída pelo companheiro durante a gravidez. Como é independente em todos os sentidos, foi a público para fazer o relato da sua desventura. Sem medo de ser feliz e do que virá amanhã, retirou-se de uma situação absolutamente incômoda e vexatória. Com certeza, ela entende que sem confiança e respeito, não existe relacionamento feliz de fato.
Iza decidiu o seu destino. Mas quantas hoje toleram coisas muito piores e não têm coragem de dar um pio sequer? Quantos casos similares são ocultados diariamente em nome da moral e da família? Até quando as mulheres vão se colocar na mão de homens a esse ponto? Fica a provocação.