Silvia Ribeiro
Desde muito pequena ouvi dizer sobre a “paixão das mulheres por bolsas”.
A minha infância foi dominada pelo sexo forte. Onde reinava mãe, tias, avó, irmã, primas e agregadas.
Achava meio exagerado e não entendia muito todo aquele afã envolvendo o objeto, como se tratasse de uma mina de ouro.
Agarradas às suas preciosidades carregam o mundo dentro delas. Coisinhas de higiene pessoal, ou uma irrisória agulha para urgências. E outras esquisitices que saem do território do normal e vai para o dito absurdo.
Dando um merecido destaque para as fraldas, mamadeiras, medicamentos, brinquedos, e um arsenal de utilidades infantis.
Minha curiosidade era saber como cabia tantos trecos ali dentro.
Comecei a observar e vi que elas estavam em todos os cantos. Uma simplesinha no supermercado, nos bares, nos hospitais, e por aí vai.
Verdadeiras companhias para os momentos de rir e de chorar.
E sem contar aquelas elegantes e com assinatura de peso, deixando claro que aquele consumo fez tremer o cartão de crédito. Então é justo que se exiba com orgulho e cutuque aquela invejinha nas demais.
Já um pouco maiorzinha, uma tia muito querida (Maria) achou que eu já era gente grande e que já podia fazer parte desse time.
Era uma bolsinha de tecido jeans, com uma flor bordada e alças de madeira. Ela mesma havia feito, e isso mudava tudo.
Uma expressão de carinho que durante muito tempo carreguei de um lado para o outro, até que nos separamos fisicamente. Não me lembro como se deu essa ruptura.
Daquele dia em diante entendi que não era apenas um sonho de consumo que fazia a cabeça das mulheres. Ia muito além disso.
Hoje, eu vejo que elas têm o tamanho das nossas necessidades, que conhecem o peso dos nossos ombros, e que cabem nas nossas vidas sem precisar de um parentesco.
Na verdade, elas são tudo aquilo que a gente gostaria de ser.
E o melhor — nos faz sentir muito mais bonitas.
Por isso eu pergunto:
O que cabe dentro da sua bolsa?
Na minha infância eu comparava a bolsa da minha mãe com o cinto de utilidades do Batman, porque dentro dela tinha sempre o que precisava no momento.
Hoje, também, os homens levam suas bolsas a tira -colo . Meu imaginário nunca levou-me a conhecer o “aconchego” destes acessórios, úteis e fáceis de levar.
Querida Silvia! Nossa! Você não sabe a recordação que me presenteou, minha mãe fabricava essas bolsas e vendia numa loja famosa do centro da cidade, Kalu era a loja. E um detalhe importante é que: quem fabricava as alças de madeira é esse seu primo emocionado pelo seu lindo texto. Obrigado!