Silvia Ribeiro
É inegável que diante de certas batalhas o nosso coração fica miudinho e não quer saber de conversa.
Perdemos o fôlego e sentimos como se todos os ventos soprassem contra as nossas vontades, com egoísmo e deboche.
Temos a impressão que alguém ou alguma coisa andou despenteando as nossas forças, e que ninguém na face da terra nos ouve.
Arriscamos a dizer que até o espelho nos virou as costas com uma malevolência digna de grandes filmes de terror, refletindo uma imagem sombria e despedaçada.
A vontade é de fechar os olhos e esperar que a inclemente tempestade passe, mesmo que isso nos custe uma longa caminhada de angústia, e de perguntas e respostas mudas.
E assim fazemos.
Até que um ínfimo cisco incomoda os nossos olhos, e o único remédio é averiguar a proporção que esse “intruso” tomou.
Observamos aquele incômodo cautelosamente, e logo algumas lágrimas tentam impedir o nosso acesso como se tivessem justificativas pra estarem ali.
Desenham marcas, salientam escolhas, nomeiam pessoas, e passam o marca texto nas histórias que deram a elas razão de existir.
Buscam desarvoradamente atalhos pra chegarem até a nossa intimidade, e escolhem não querer saber de gentilezas e nem de empatia. Exigem uma submissão declarada e assinada com letras maiúsculas, e sem personagens fictícios falando alto.
E como em toda tempestade: chega o momento da calmaria.
E lá está ele no seu lugar de sempre.
Vestido de cores e trazendo alegria debaixo dos braços. Nos ouve com mansidão, tira todo o rigor dos nossos ombros, e canta uma canção de ninar pro nosso coração.
Se essa rua, se essa rua fosse minha…
Ele pode ser um raio de sol que nos primeiros sinais de vida aquece o nosso quarto, as três Marias do universo ensinando preces, ou um esperançoso arco-íris dividindo com a gente a marquise.
Algumas pessoas falam que é merecimento, outras já entendem como sorte, e algumas arriscam dizer que é mágica.
A minha alma diz que é Fé.