Luciana Sampaio Moreira
A hipocrisia do povo brasileiro é risível! Para dizer o mínimo. Clínicas de aborto clandestino não são uma novidade. Nem as de luxo e nem as de fundo de quintal. O procedimento sempre foi realizado, principalmente para o alívio das ditas famílias de bem que não iam manchar seus nomes com filhas ou mulheres/amantes desgarradas que engravidaram fora da hora.
A lei de 1940 deu algum norte sobre a questão no Brasil. Só que nos últimos anos, esse assunto que há muito deveria ser visto como questão de saúde pública tem sido amplamente usado para ganhar votos, por uma categoria política que inclui mulheres. Dos 33 parlamentares que assinaram o malfadado PL nº 1904, são 11 apoiadoras. E é essa participação que me intriga há dias.
Não é novidade que o machismo da sociedade é passado das mulheres para suas proles. A criação e o tratamento diferente dentro de casa para meninos e meninas e os exemplos de submissão (outro conceito muito em voga no momento) são práticas que extrapolam o ambiente doméstico, chegam no local de trabalho e afetam também as relações pessoais. Agressões, casos de estupro e feminicídios que o digam.
Em tempos de conservadorismo burro, mulher tem que voltar a ocupar seu lugar dento de casa, cuidando dos afazeres domésticos, parindo à rodo e tratando da filharada. Essa não é a vida que a maioria de nós leva – mesmo porque, o sustento das casas hoje, quando não é só delas, é muito bem dividido. Mas há um grupo minoritário e radical de “políticos” que atua diariamente para transformar a exceção em regra.
Nessa claque há aquelas que parecem odiar sua condição de mulher e, consequentemente, suas semelhantes. O que mais explicaria tamanha crueldade e preconceito? Inclusive com meninas e adolescentes? Se cada um dá o que tem, o que será que essas 11 deputadas federais têm a oferecer? Uma contribuição machista e preconceituosa regada a culpa eterna?
Porque se foram eleitas para fazer coro e a tamanho descalabro, cabe às eleitoras avaliarem bem isso para não repetir o erro. O lugar da mulher é onde, como e com quem ela quiser. Simples assim! Essa ideia pode até não agradar a todos, mas deve ser respeitada. Afinal, a escolha é absolutamente individual.
Assim também a difícil decisão de fazer um aborto, cirurgia das mais perigosas para a saúde física e mental da mulher e que, ao contrário do que se alardeia por aí por meio de fake news grotescas, não pode ser realizada indiscriminadamente. Vendo o perfil das apoiadoras da insanidade de comparar aborto a homicídio, constato que na maioria dos casos não falta estudo ou acesso a informação. Imperam maldade e culpa.
Não passarão!