A jaqueta Adidas do Galo

Tadeu Duarte
tadeu.ufmg@gmail.com

Realizei o meu sonho de comprar uma jaqueta Adidas do Galo, justamente a retrô Originals. A última vez que a marca alemã forneceu material esportivo para o Atlético foi em meados dos anos 80.

A jaqueta Adidas 80’s do Galo é um item raro de colecionador. Essa demanda reprimida estava no imaginário coletivo do torcedor, ao ponto de encontrarmos várias jaquetas piratas nos estádios. 

Ninguém conhece tão bem o que é moda e o desejo do povão quanto o camelô, que, gatulebra que é, não se prendeu a legalidade e realizou esse sonho décadas antes. Basta uma ida ao Shopping Oi pra saber quais marcas estão hypadas.

Quando o Atlético fechou com a Adidas eu planejei comprar tudo o que aparecesse. Mas ás vezes a realidade é sacana pra caramba…

Primeiro colocaram um BETANO gigante na frente e um BMG atrás, justamente onde o torcedor coloca seu nome. Depois, fizeram umas camisas esquisitas e sem graça. Desanimei de comprar.

Não faço apostas esportivas nem tenho conta no banco que financiou os dois Mensalões, o Tucano e o Petista, pra ser outdoor desses embusteiros.

Daí veio a camisa especial, preta e rosa, em homenagem à luta contra o câncer de mama. Comprei até pela cor, lembro que, quando o Galo teve uma camisa de treino rosa, teve um enorme ataque de pelanca dos machos frágeis. Infelizmente tem muito reaça na torcida do Galo, em desacordo com a história democrática do time, todos juntos e sem distinção de cor, raça ou credo. Pelo certo e pelo Galo.

Já a camisa em homenagem a Consciência Negra foi tão feia que causa constrangimento até nos abadás do Asa de Águia. Essa aberração estética foi desenhada pelo Laboratório Fantasma, do rapper Emicida, que, não satisfeito em fazer músicas de sangrar os ouvidos e dar lacradinhas com seu ar blasé no sofá da GNT, estragou a camisa de uma causa nobre.

Dos anos 80 pra cá foi um São-Vitor-que-nos-acuda de marcas funhenhentas vestindo o Galão, principalmente a dobradinha inimiga da moda: Topper & Penalty, que só vendem tênis de futebol de salão. Em todos esses anos, a melhorzinha foi a Puma. 

Mas também tivemos Umbro, Dellerba, Le Coq Sportif, Dryworld, e Lupo. É, meus caros, o Galo é um time tão inusitado que foi campeão da Libertadores vestindo uma camisa vagabunda, de uma empresa conhecida por suas meias e cuecas baratas. 

O marketing do Galo é tão Joselito Sem Noção, que, naquele ano tivemos o bruxo Ronaldinho Gaúcho fazendo magia nos gramados sem que nas Lojas do Galo tivesse qualquer produto específico dele. Imaginem o quanto não venderia um boné do R10? O mesmo acontece com Hulk, nosso súper herói alvinegro.

O Manto da Massa é um projeto sensacional, mas que peca pela seleção de camisas estranhas. Tenho só a primeira e ela me faz suar mais que tampa de chaleira. A última, de São Vítor, foi um fiasco de vendas.

Tem vezes que a eleição popular não funciona. Infelizmente o brasileiro é ruim de voto, veja Bozo, Zema & Nicolly e tantos outros…

Torcer pro Galo nunca foi fácil, era uma relação tóxica e abusiva, estragava o seu emocional e te transformava em um alcóolatra. Ter títulos de expressão, um elenco milionário e um estádio moderno era algo inimaginável antes de 2013. 

O que eu não tinha sequer condições de sonhar, aconteceu.

De lá pra cá tudo é possível, o Galo de hoje é o time do nosso hino: forte e vingador.

Nosso ex-rival se reBBBaixou tanto que virou um time de supermercado, e até dia desses era explorado por um cafetão de puta pobre.

Estamos disputando ininterruptamente todas as Libertadores da América e eu tenho estádio e a minha jaqueta Adidas Original’s do Galo.

Tudo lindo, tudo maravilhoso.

Mas e o frio, cadê?

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