Entre as diversas ideologias utópicas que grassam entre as pessoas atualmente, aquela de que tudo pode ser disposto a todos em tempo real, sem necessidade de qualquer diligência laboral ou qualificação, parece ser das mais incômodas a quem se dedica ao trabalho e ao estudo. Quem imagina que o produto exposto na vitrine, gôndola ou página da internet lhe é devido apenas por existir, está vivendo uma ilusão perigosa. Mesmo as promoções, no crédito, são armadilhas caras e carregadas de riscos. Quase sempre as conquistas, os sucessos, demandam muito esforço e persistência, mais do que apenas talento.
Enquanto para o nubente o “sim” é a realização de um sonho, a data breve e o sucesso de uma cirurgia, para outros, seria uma dádiva divina. Há até quem suspire por se entregar a outrem, como atestado por Adilson Ramos e Armelindo Leandro, no grande sucesso Sonhar Contigo (1963): “Este é o meu maior desejo, tomar tuas mãos, calar tua voz num longo beijo…” .
Entre tantas aspirações cuja consumação, quem sabe (?), seria a felicidade plena, para algumas PcD e quem as ama, reverter o quadro, eliminar a deficiência, seria a verdadeira glória. Às vezes se toma essa metonímia pela amplidão do viver; como se bastasse uma única mudança de estado ou situação para que a felicidade plena se instalasse. Depois de muitos anos, a experiência nos impõe sua dura verdade: não será, exclusivamente, isso ou aquilo que fará pleno o subsistir. Ser ou estar PcD não é nem pré-requisito nem tampouco impeditivo para uma vida admirável. Talvez seja um desafio a mais, em que a capacidade de criar caminhos alternativos e desenvolver talentos específicos se tornem fundamentais na jornada vital rumo à realização de cada um. Entregar os pontos e sucumbir ao desânimo, todavia, é contraproducente a qualquer humano, com ou sem deficiência.
Reporto uma experiência para ilustrar a importância de compreender o cenário e auxiliar no provimento de soluções. Ao tratar do tema, espero ajudar a outros.
Passei, há alguns anos, por uma cirurgia. Naquele sábado pela manhã, o procedimento seria feito “por atacado”. Éramos muitos ali, com o mesmo diagnóstico. Ao lado, uma sala comprida, tinha uma mesa na entrada e doze leitos paralelos, em que fomos dispostos enquanto aguardávamos liberação pós-operatória. Após algum tempo, chegou uma moça de branco, com prancheta na mão, que chamou alto:
– Senhor Fulano.
– Aqui!
– Levante a perna direita… agora a perna esquerda… tudo bem?
E dirigindo-se ao maqueiro, a postos na entrada, disse:
– Pode levar para o quarto. Senhor Sicrano.
– Sim!
– Levante a perna direita… agora a esquerda… tudo bem?
– Pode levar. Senhor Mário Sérgio.
– Sou eu!
– Levante a perna direita… agora a perna esquerda…
– Eu não consigo.
– Tudo bem. Senhor Beltrano…
Entendi que se não explicasse a ela, eu só sairia daquela sala por milagre, porque nenhum músculo da minha atrofiada perna esquerda responde, então, sem intervenção divina, eu nunca levantaria a tal perna.
Antes que eu me esqueça, as duas palavras são: “muito bom”!
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Kkkkkkkk muito bom
Obrigado.
Valeu, meu amigo.
Abraços.
Muitas vezes me pego refletindo, se não por acaso no trabalho ou nos devaneios… e se, e se, e se… nunca terei certeza, mas de uma eu tenho, tudo faz sentido e isso é “ muito bom “
Mário, tudo é maravilhoso quando temos a compreensão divina.
Abraço de sua amiga Gélia.
Obrigado, minha amiga Gélia Pacheco.
Somos, como disse o espetacular Gonzaguinha "eternos aprendizes".
Caro Mário, entendo que o texto critica a crença utópica de que se pode obter tudo sem esforço, ressaltando que sucesso e conquistas exigem trabalho e persistência. Ele menciona que algumas pessoas veem a felicidade como dependente de mudanças específicas, como reverter uma deficiência, mas argumenta que a realização pessoal vem de enfrentar desafios e encontrar caminhos alternativos. A narrativa pessoal sobre uma cirurgia ilustra a importância de compreender limitações individuais e buscar soluções adaptadas. Muito bom!
Muito obrigado, Genésio Vicente.
A exposição de algumas experiências, tem o condão, avalio, de reduzir a percepção estereotipada que alguns têm quanto às PcD.
Abraços.
Rsrsrs, Grande Mário!
A conclusão implícita no texto expõe claramente, que o sucesso, a realização e a felicidade dependem de esforço, adaptação e persistência, e não simplesmente de mudanças externas ou de expectativas irreais.
Expectativas essas, experimentadas por todos em diferentes dimensões e pontos de vista.
Sucesso!
Beijo no coração!
Recebo com carinho e emoção suas palavras, Zilma Torres. É essa sensibilidade e desprendimento que nos impulsiona a perseverar no caminho.
Abraços.