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Força na peruca

Força na peruca – Fonte: Internet
Tadeu Duarte
tadeu.ufmg@gmail.com

Sou uma pessoa intuitiva e perceptiva, só de bater o olho consigo fazer uma leitura adequada de qualquer ser humano.

Não sei se minha percepção aguçada é virtude ou sina. Se por um lado eu me preservo de gente merda, também entendo o quão desgastante é ser um telescópio Hubble, de olho no mundo a desnudar pessoas.

Depois que cometi uns poucos equívocos, baixei a bola. Achei que fosse infalível, mas infelizmente só acerto 90% das vezes.

Sou um exímio detetive político. Até pela sombra sei quem fez arminha com as mãos e atirou na urna. E não falo só dos tiozões reaças, mesmo os isentos de direita, neutros de direita e apolíticos de direita, não me enganam. Até os arrependidos, também de direita, que votaram por salvar a democracia em 22, não me escapam. A desfaçatez do Gado BR não funciona comigo. Eu sei em quem vocês votaram nas eleições passadas.

Meus olhos de lince também me transformaram em um detetive capilar. Reconheço de longe um cabelinho fake. Um golpista capilar é tipo o Gado CBF, decodificado o DNA do primeiro, você reconhece todos os outros.

Num golpe de nomenclatura, a peruca virou prótese capilar. Na real, você é o mesmo careca disfarçado de sempre. Se você colocou um cabelinho de boneca na cabeça, você é um perukento e ponto final. Tipo aqueles anúncios de relax ou massagem nos Classificados dos jornais, onde “inversão com assessórios” virou “massagem prostática”. No fim das contas, ainda que não se assuma, você toma na bunda.

Pode ser Chico Xavier, Eike Batista, Luiz Fux ou Zacarias, se colou uma chinchila na cabeça, perdeu o meu respeito.

EU SOU PERUCOFÓBICO, SIM!

Confesso que não gosto, não confio, não respeito e nem dou bom dia pra careca com cabelo.

Ando assustado com a quantidade de calvos não assumidos por aí, BH tá assim: em cada esquina tem uma obra inútil do Fuad, um Bolsonarento e um Perukento.

Minha fobia se estende aos careca-cabeludos que usam o famigerado corte Pega-Emprestado, deixam o cabelo crescer de um lado, pega emprestado, e joga para o outro na tentativa parlapatona de cobrir sua cabeça asfaltada. Quando eu penso que entraram em extinção, logo aparece um pra testar minha paciência.

Na minha antiga academia descobri um instrutor de crossfit perukento. Ele chegava todo galhardão, pagando de cabeludo, com sua cacatua milimetricamente penteada pra cima. Seu corte de cabelo é moderno, chamado Undercut, que, traduzido para bom português, significa “Alça de Boquete”.

Ele é um rapazola todo fake. Pra começar, num lugar de atividade física ele é um professor de palhaços, afinal, crossfit é circo. Para um personal, seu shape é mais porpetinha que o meu, que tô mais pesado que sono de surdo. Por fim, ele só usa roupa falsificada, bermuda e tênis Nayque de uma coleção exclusiva do Oiapoque Fashion Week.

Certa vez, tive a surpresa cômica de vê-lo penteando sua Cláudia Ohana no vestiário da academia. Com a mesma técnica de Ronaldinho Gaúcho, que olhava pra um lado enquanto tocava pra outro, ele penteava de um lado segurando a cacatua de outro.

Quando seu cabelo verdadeiro crescia, ele ia de boné. Suava mais que tampa de chaleira com dois chapéus na cabeça, um de pano e outro de pêlos.

Lembro que as perucas antigas eram, sabidamente, perucas. Era tão flagrantemente perceptível, que deixava seu usuário acabrunhado socialmente, quase que como se pedisse desculpas pelo vacilo.

Os peruquentos precisam retomar o seu lugar na sociedade, que é e sempre foi o do bullyng. No que depender de mim, ter uma Jublicleusa na cabeça voltará a ser motivo de chacota. Aliás, fiz o Léo Dias durante o ano todo, fofoquei com todo o mundo que ali entre nós tinha um calveludo.

Com o tempo, fui pensando as situações constrangedoras que um calvístico disfarçado passa. Imaginei ele se esquivando de cafunés, evitando praias e duchas no motel, até que, por fim, se assume: “desculpa, não posso. Preciso te contar um segredo íntimo… (pausa dramática) Eu sou mais que calvo, sou careca mesmo. Topetudo por cima e lisinho por baixo. Menti sim, te enganei por vergonha e por amor”.

Quem sempre fala a verdade é psicopata. Penso que, dadas as circunstâncias, uma mentira é salutar. Eu, que nos fins de noite já menti ser solteiro, ter dinheiro e ter real interesse, jamais menti ter cabelo. Por favor, há que se ter um mínimo de dignidade e ética nas relações.

O problema social da peruca é que o usuário transfere seu constrangimento para os outros. Quando você vê um perukento, fica na dúvida se realmente viu o que de fato viu. Quer conferir, mas também não quer constranger o cidadão. Você olha de relance, confirma, mas não pode sequer rir. Enquanto você finge de bobo, ele tá de boas, disfarçado com seu cabelo sem raiz.

Cresce em todo mundo a luta anti-perucal e pela dignidade capilar dos calvos & carecas.

Se você ama seus cabelos, dê a eles o direito de partir.

Eu apoio essa luta, e você?

Pela liberdade de ser careca, diga não aos perukentos!

 

Daniela Piroli Cabral

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Daniela Piroli Cabral

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