Silvia Ribeiro

Ei!

Sei que tem muito tempo que a gente não se vê, e que andei meio sumida.

Quero aproveitar o momento pra me desculpar.

Sabe o que é? As vezes a rotina não me favorece.

Acordo tendo que derrubar vários problemas ao dia, e quando falho, me enxotam feito um cão sarnento.

Na verdade, não me importo. Me acostumei com essas peculiaridades, e com esses arranhões que sempre me alcançam.

Existem muitos lugares por aí que eu posso entrar, e que me recebem com todas as honras, e até me convidam para um café.

Já outros, nem sequer percebem a minha presença.

Acho engraçado como tantas pessoas vivem à minha procura, e quando eu chego não sabem o que fazer comigo.

A minha tarefa não é fácil, embora entenda que a vida nem sempre é mansinha, e que o tempo anda passando por cima das nossas vontades.

Vivo duelando com um inimiga voraz e petulante, uma sujeitinha que vive pronta pra dar o bote. Basta se afinizar com a sua falta de modos.

E posso dizer- em várias ocasiões ela consegue me derrotar.

Não é muito desconhecida, e acredito que muita gente já andou provando do seu veneno. Tristeza- é o seu nome.

Concluí que alguns seres preferem a sua companhia e acreditam no que ela fala, e no que ela manda. Talvez por se engaiolarem dentro das suas artimanhas, ou por gostar de exibir um troféu de coitadinho(a).

E quando isso acontece, tento mover céus e terras, rodar a saia, espalhar água benta, cantar desvairadamente. Mas, nada adianta.

Sei que sou boa gente e brilho como a luz do sol. Sou limpinha, tenho cheiro de sabonete, e sabor de brigadeiro.

E tem mais:

Adoro visitar as pessoas, desde um miudico que acabou de nascer, até aquele que já percorreu grandes estradas.

Não sei se isso seria um defeito, ou uma mania, mas carrego comigo uma vaidadizinha narcisista.

Vejo o espelho como o meu aliado, e quando penso que estou sozinha é pra ele que eu peço colo.

Vim te visitar, me chamo “Alegria”.

Me deixe ficar.