Wander Aguiar
Em 2019 decidi que faria um dos trajetos do Caminho de Santiago de Compostela, um antigo percurso de peregrinação religiosa. Em 10 dias eu faria 10 cidades a pé: sairia do Porto em Portugal e atravessaria parte da Espanha até chegar ao meu destino, cerca de 230 km de distância (acabei fazendo 350 km em 10 dias). Devido à pandemia do Covid-19, meus planos foram frustrados e fui obrigado a prorrogar minha jornada pelo Caminho de Santiago de Compostela.
Finalmente, em outubro de 2022, comprei a passagem e comecei minha preparação para a jornada.
O Caminho de Santiago se apresenta como uma metáfora da vida e desde a preparação somos levados a diversas reflexões, entre elas o poder da nossa fé. Eu sabia que não seria fácil, afinal, vários fatores deveriam ser levados em conta: estar sozinho no desconhecido, a falta de intimidade com trilhas e longas caminhadas, o preparo físico necessário (2 meses antes rompi um músculo na panturrilha durante o treino) e até mesmo a falta de incentivo daqueles que não acreditavam. Ignorei tudo isso e decidi seguir meu coração e meus planos, firmado na minha fé.
Desde o início nutri um forte sentimento de que seria capaz e, com meu esforço e minha fé, aquela no sentido literal de crer em algo ou alguém, eu conseguiria chegar ao meu destino e assim fui levando. O que eu não contava é que ainda no trajeto entre o Brasil e Portugal uma situação me levaria a refletir ainda mais sobre o quanto somos privilegiados por termos tanto em nossas vidas e o quanto a fé nos move e nos sustenta nos momentos mais difíceis de nossa caminhada.
Chegando em Luanda, na Angola, conheci um pastor que há três meses evangelizava naquele país. Como sou muito curioso e nunca havia estado lá quis tirar dele as suas impressões daquele povo, daquela cultura e daquela pátria.
De toda a nossa conversa o que mais me impressionou foi o comentário dele sobre a fé daquelas pessoas: “Nunca vi um povo com tanta fé”. Quando questionei o porquê daquela observação, a resposta dele foi simples, porém forte: “Fé é a única coisa que eles têm”.
Aquela conversa mexeu profundamente comigo e, por um momento, me senti incomodado e ao mesmo tempo instigado e reflexivo de pensar que, quando não se tem nada, a fé é o único instrumento que nos leva a algum lugar.
O relato é comovente e inspirador. Excelente !