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No consultório

Silvia Ribeiro

Eu amo escrever besteiras.

Mas não é no sentido pornográfico da coisa, embora goste de dar uma apimentadinha nas palavras. Um saboroso tempero me agrada.

Coisas inúteis do cotidiano costumam chamar a minha atenção, e quando isso acontece a solução é o lápis.

Preciso de material que me dê a oportunidade de contar histórias. E em vários ambientes eu encontro a inspiração exata pra colocar as letras no mundo.

Vocês não têm ideia o quanto é inspirador uma sala de espera de um consultório.

Quando marco uma consulta já me preparo para um grande ato, apesar de saber que a maioria daquelas prosas em tempo algum eu poderia prever.

Tudo bem, que algumas vezes você sai de lá com um daqueles diagnósticos esquisitos que quebram todas as suas expectativas, e te deixam indecisa.Tipo, isso é virose.

Sem falar, quando você precisa olhar pra cara daquelas secretárias rabugentas e que se comportam como se fossem a dona do terreiro.

No entanto, nada apaga a satisfação de sair dali como se tivesse aquela trouxinha amarrada nas costas, cheia de dicas e contos de embaraçar qualquer cabeça, e de arrancar as melhores risadas.Todas merecedoras de um livro de autoajuda.

Comumente, me pergunto se estou numa recepção de psicologia, ginecologia, psiquiatria, e sei lá mais quantos “ias”, que existem por aí.

Uma verdadeira mistureba de experiências, e um auspicioso torneio de quem é o mais sabido(a), e de quem tem mais consultas no currículo. E que vença o melhor.

Relatos horripilantes e arrepiantes, que te fazem esquecer a síndrome do jaleco branco, mãos suadas, coração disparado, enfim. E até aquela pressão alta que gosta de aparecer, nessa hora fica quietinha.

Você age como se estivesse numa sala de visitas tricotando na maior intimidade com algumas figuras que você nunca viu na sua frente, e que ainda assim te faz se sentir melhor naquele momento.

E quando tem aquele cafezinho? Aí não dá vontade nem de ver a cara do médico. Do lado de fora você já resolveu todos os seus queixumes.

A não ser, quando a própria doença fica de lado e o doutor ou doutora viram os protagonistas.

Deliciosas paixões platônicas entre receituários, estetoscópios, e outros itens que já estamos familiarizados.

E quem nunca?

Confissão:

Há alguns calendários atrás, tive uma dessas tais paixões. Algo que me deixou as melhores lembranças, que despertou o meu lado menina/mulher, e que durante um bom período da minha vida fez parte do meu sonho de “consumo”.

Embora não tenha sido totalmente platônica.

Vamos pular essa parte. (Risos)

Ah! Preciso marcar uma consulta.

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