Ele era muito mais do que ela poderia imaginar.
Aquele cara que ela conhecera ainda adolescente, lá no interior, lhe fora apresentado por uma amiga comum que desconhecia completamente a história dos dois.
História dos dois? Como assim…
Sim, os dois viveram na mesma cidadezinha.
Tiveram um namorico, logo proibido pelos pais dela.
Àquela época, o cara em questão usava os cabelos compridos demais, as calças largas demais, cantava num conjunto de rock, não gostava de estudar, era mesmo um mau elemento.
O tempo foi passando e os dois se separaram.
Cada um em um extremo do país sem jamais terem se reencontrado. Esqueceram-se completamente um do outro. Nada que os fizesse lembrar de nada, daquela cidadezinha, daquele namorico e do desaparecimento total de ambos.
O tempo foi passando e os dois nunca mais se viram.
A vida na capital era intensamente vivida.
Ela, que gostava de estudar, terminara há pouco a faculdade de Psicologia. Trabalhava em uma clínica, três dias na semana e nos outros dias dava aulas em um instituo bastante conhecido.
Acabou se casando com um argentino que ela conhecera em Minas e com ele foi morar no Norte do país. Tiveram um filho e quando voltaram para a capital o casamento já estava por um fio. Resolveram então que uma separação seria bem-vinda e que o filho, já quase adulto, também ficaria com a mãe e ele, o pai, poderia vê-lo quando quisesse. Nenhum problema. Tudo civilizadamente esclarecido e tranquilo.
De volta aos tempos atuais, a vida dela fora assim: jamais um pensamento para aquela figurinha que nem namorado havia sido.
Enquanto isto, ele que nunca gostara de estudar, trabalhava com um amigo do pai. Era responsável, disciplinado, eficiente e não ganhava mal como gerente do supermercado. Era muito trabalho, muita gente para administrar, problemas o dia todo, mas a tudo isto ele sobrevivia bravamente.
Uma tarde, de uma terça-feira de pouco movimento no supermercado, ele vai para a área de vendas para verificar a reposição de mercadoria, arrumação das prateleiras, o comportamento da equipe na área de vendas. Se esbarra num carrinho de compras e se vira para pedir desculpas.
Nenhuma palavra saiu; nem dele nem dela.
Não houve pedido de desculpas nem mais informações.
Nenhuma explicação. Nenhum relato do acontecido em tantos anos.
Nenhum barulho que não fosse o coração dos dois, batendo no mesmo descompasso.
O trabalho na Clínica foi abandonado.
O filho quase adulto foi morar com o pai.
As aulas no Instituto foram passadas para uma colega da Clínica.
E o supermercado recebeu com pesar o pedido de demissão.
Muita vida pela frente, muita mudança, muita calma e muita paz naquela cidadezinha, no interior do Ceará, com menos de cinco mil habitante, mas bem próxima de uma cidade grande.
Os dois dedicaram-se a se amar…
Em todos os momentos, em todos os lugares, sempre gratos pelo milagre do reencontro e muito felizes, os dois.
E há dois anos tem sido assim…
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Que reflexão sobre nossos destinos... nossa vida é sempre imprevisível. O que será que nos aguarda? Reencontros assim são mágicos! Adorei!