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A tal inteligência artificial

Peter Rossi

Muito se tem falado sobre a tal inteligência artificial.

Nós, mais rodados, ficamos a princípio com medo: medo de que a máquina substitua o homem — realidade já existente, ainda que de forma parcial; medo de que a máquina adquira vontade própria e, como nos antigos filmes de ficção científica, acabem destruindo umas às outras e de resto todo o mundo.

Por outro lado, ficamos também assustados com o fato de que se trata de um novo dialeto, pior, um novo idioma e já temos nós aquelas dificuldades da idade para desenvolver novos atributos. A repetição, à essa altura da vida, nos favorece. Novos ventos, só se vierem do alto-mar a varrer nossa pele, estendidos na areia da praia. 

Particularmente, penso que a tal inteligência artificial poderá vir a roubar a nossa própria. Ficaremos ainda mais preguiçosos em… pensar! É certo que as telas dos equipamentos eletrônicos nos retiram, além do tempo, a atividade física dos neurônios. Eles não malham mais como faziam e a tendência é que fiquem obesos, cansados e desanimados. E olha que pensar não dói!

Me lembro quando conheci, através de notícias, o primeiro computador. Era um trambolho que ocupava uma sala inteira. O tempo passou e hoje tenho um pequeno e fino computador à minha frente — o que estou usando para escrever essa crônica, aliás. E agora aparecem com essa: poderemos, doravante, conversar com as máquinas.

Sim, estou falando dessas criaturas digitais que, aparentemente, sabem tudo. Elas recomendam filmes que nunca vi e me lembram dos aniversários que tendo a esquecer.

Percebo que terei que me adaptar inclusive com a linguagem, o tal dialeto do qual falei antes. Quando eu pedir “filhote, coloque aí uma musiquinha da Jovem Guarda”, certamente a máquina, com sua polidez cibernética responderá que não entendeu o pedido, claro! Ela está programada para entender comandos diretos e claros. Ora, onde foi parar a boa e velha conversa fiada?

Teremos, sobretudo, que lustrar a nossa paciência. Às vezes me pego falando com a inteligência artificial como se fosse uma neta: “não, meu amor, não era isso que o vovô queria”, isso após ela me sugerir algo completamente fora do contexto. Só então percebo que estou dando bronca numa máquina, repreendendo um conjunto de algoritmos como se fossem eles capazes de aprender como nós.

Mas apesar dos desafios, é bem-vinda essa nova aventura, tenho que concordar. Afinal, quem poderia imaginar que um senhor de escassos cabelos estaria na fronteira da tecnologia, conversando com máquinas? Que venham, então, os desafios, pois é sempre gratificante aprender algo novo, mesmo que seja para perguntar à inteligência artificial onde coloquei meus óculos — que, como sempre, estão bem na minha cabeça.

Mas, enquanto eu me esforço para aprender a falar com máquinas que respondem e até antecipam minhas necessidades, reflito sobre o equilíbrio necessário entre aproveitar as facilidades da tecnologia e preservar a essência do que significa ser humano. Afinal, em um mundo de constantes novidades, algumas coisas — como sabedoria, empatia e experiência — continuam insubstituíveis.

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