Tinder - fonte: Internet

Solteiro Original (parte 3)

Tadeu Duarte
tadeu.ufmg@gmail.com

Em poucos dias de uso do Tinder, Cláudio Augusto pôs em prática sua lógica capitalista e utilitarista de suas relações com o universo feminino: extrair o máximo de prazer gastando o menor tempo e dinheiro possíveis.

No escurinho do seu quarto, Claudião desgastou sua digital descendo o like nas cremosas. Comparou o Tinder a um vídeo game, no qual cada match vale pontos pra passar de fase. Atirando mais que Clint Eastwood em filmes de faroeste, ele logo marcou seus primeiros encontros.

Sem nenhum constrangimento, dizia que seu público alvo eram as “periguetes de periferia”, raciocínio estulto em sintonia com Mamãe Falei, galã da guerra da Ucrânia, quando afirmou que as ucranianas “são mais fáceis porque são pobres”.

Seu primeiro date foi com a Zacarola Darth Vader, mulher de beleza exótica, fusão do Trapalhão Zacarias com o personagem Beiçola, da Grande Família. Seu cabelo preto, armado, brilhante e alisado lembrava o penteado dos dois somado ao capacete do vilão de Star Wars.

A moça, que morava para além de uma galáxia muito distante do Venda Nova, não quis nada além de bitocas new wave. Por isso e também por  temer a sua segurança física e patrimonial, na volta do encontro ele a deixou no ponto de ônibus e ela que se virasse pra chegar em casa. Temia ser sequestrado ou que roubassem seu Fiat Uno, adquirido com o juros extorsivos em 48 longas prestações.

Cláudio, que passou os analógicos anos 90 discando 145 no extinto Disque Amizade, pirou ao ver disponíveis no mundo virtual milhões de fotos sensuais das Tinderianas. Se antes, contava apenas com a sua intuição e com a voz sensual atrás da linha, agora tinha acesso a um cardápio completo de perfis femininos, uma profusão de fotos de caras & bocas, biquinhos e beicinhos, decotes, coxas, sobrecoxas, sempre sublinhados com alguma frase de efeito desconexa e idiota.

Com seu Q.I de temperatura ambiente, entendeu que finalmente era chegada a sua hora, as mulheres de BH estavam à sua disposição, bastava apenas clicar no botão em forma de coração e esperar a mágica acontecer.

Não tinha dúvidas de que esses corpos femininos, ali tão expostos, realizariam todo o prazer que o extinto Cine Privê da Bandeirantes lhe ficou devendo. Cláudio guardava um imenso ódio dos malditos comerciais, que entravam justamente na hora H, quando ele estava no apogeu máximo da duracidade sôfrega, ansiando por desafogar o Cabeção da Malhação.

O Tinder lhe prometia um mundo erógeno ilimitado, um oásis de puro deleite e lubrificação sem compromisso.

Como nem no universo virtual as coisas são como se deseja, Cláudio tinha dificuldade em conseguir agendar encontros com as Tinderianas mais belas. Mas, vida que segue. Pra treinar qualquer bola serve, refletia em seu auto consolo. E seguia à risca a máxima filosofia do artilheiro Dadá Maravilha: “Não existe gol feio, feio é não fazer o gol”.

Toda segunda-feira pela manhã ele me encaminhava seu relatório de acontecimentos do fim de semana. Tão bom quanto ouvir suas histórias absurdas, era ser informado da exata quantia (incluindo os centavos!) que ele havia gastado. Cláudio também pontuava de 0 a 10 as mulheres que encontrava e, debochado, ainda adicionava um bônus de meio ponto às Tinderianas que transassem com ele.

Outra atitude deplorável, mas engraçada, era saber dos apelidos cruéis que Cláudio colocava nas mulheres que se envolvia. Assim como o carro do Google, ele mapeou toda a grande BH em seus love moments.

Cada hora em um bairro diferente, ele foi se encontrar com a Geladeirona de Contagem, a Cintura de Kombi do Maria Helena, a Olho de Pombo do Santa Cruz, a Gengiva Verde do Heliópolis, a Estriaway do Sumaré, a Bonecão da Michelin do Tupi, a Coroete Boca-de-Guimba do Glória, a Kara Keymada do Bonfim, a Batedeira do Guarani e a Kátia Pão-com-Ovo do longínquo bairro de Neves.

Levando a sério sua matemática financeira, organizou uma planilha visando controlar melhor os seus gastos. Para aliviar nas despesas de tantos encontros ele parou de pagar o seguro do seu Fiat Uno, e, quando usava camisinha, era somente aquelas estatais, oferecidas gratuitamente pelo posto de saúde.

O destino o livrou de uma paternidade indesejada, mas não de uma horrível gonorréia, que Cláudio, um liberal radical anti-estado (mas sem plano de saúde), tratou de graça nessa mesma policlínica do seu bairro.

Claudião Brocador, sempre precavido, carregava no carro uma garrafa pet de refrigerante com a água do filtro de casa pra economizar no frigobar dos motéis e drive-in’s zero estrelas que frequentava, isso quando não transava escondido de madrugada na garagem da sua casa. No outro dia levantava temeroso de represálias, afinal, Claudinho 40tão ainda morava com mãe.

Pra fazer bonito com as Tinderianas insaciáveis e ensandecidas, ele meteu o louco na sua hipertensão. Tomou tantas e tantas caixas de Viagra genérico que sua pele ganhou uma coloração azulada, se assemelhando a um Smurf.  Só não morreu de infarto porque o capeta se recusou a recebê-lo no quinto dos infernos.

Cláudio Augusto era um feio engraçado, metido a transão e conquistador. Afirmava ser expert em fazer o que batizou de “pilãozinho”, sua posição sexual preferida.

Se gabava ser um exímio chupador de perereca, dizia que não fazia um reles sexo oral, e sim uma leitura labial. Ao degustar as xampolas, era capaz de decodificar até o DNA da felizarda, entendendo perfeitamente quem era e o que queria da vida aquela mulher.

(continua e acaba na próxima semana)

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