Peter Rossi
Marta cuidava da limpeza do escritório. Sem nenhum motivo especial nutri e ainda nutro por ela grande simpatia.
Costumava, toda vez que chegava ao trabalho, declamar inúmeros sobrenomes para a Marta, transformando-a numa rainha de um reino distante. Ela se divertia com tudo isso e, vez ou outra, me lembrava que os sobrenomes do dia eram inéditos.
– Esse o senhor nunca falou antes. E desabava em uma sonora gargalhada.
No horário do café, torcia para que Marta estivesse na copa, seria a oportunidade de mais uma conversa animada. E foi ela, quem me contou a história que passo a narrar, segundo me disse, ocorrida com sua filha Tininha.
Era uma menina serelepe, do alto de seus seis anos de idade, em que pensa que o mundo vive ao seu redor. Talvez viva mesmo, só que a gente teima em não acreditar.
igreja. Com ela estavam várias amigas e, por certo, várias crianças. O assunto permeou por várias frentes. Trocaram receitas, comentaram o sermão do padre, reclamaram dos filhos nas escolas e das professoras exigentes.
As crianças, às vezes, vinham ter com as mães, sentadas em cadeiras de plástico, em círculo, no quintal da casa paroquial. Vinham para reclamar de algum coleguinha, outras vezes só por saudade e outras tantas por pura curiosidade.
Calhou de Tininha, filha da Marta, chegar perto da roda de mulheres justamente quando falavam sobre aniversários, festas e presentes. A menina ouviu tudo atentamente e, em determinado momento, intercedeu:
– Essa história de aniversário me deixa muito triste!
– Por qual razão, Tininha? Uma das mães perguntou.
– Acontece que faço aniversário em dezembro.
– E o que é que tem? Jesus não nasceu em dezembro?
– O que é que tem? O que é que tem é que meu aniversário é sempre o último lá de casa, eu me canso de esperar. Tenho que esperar um ano inteiro!
Todas as mães caíram na gargalhada até que Marta conseguiu ser ouvida:
– Gente, que bobagem! Achei que a Tininha, por fazer aniversário em dezembro, iria reclamar que sempre ganha um presente só!
Vai entender!