Havia alguma coisa muito estranha àquela tarde. Uma sensação de flutuação, de desconexão, de falta de foco. Vaguei por vários livros, terminei em um filme ruim do diretor do momento. Chato demais, não vai dar nem para fingir que gostei.
Fui até a cozinha, preparei um whey, senti-me saudável porém ainda esquisita. Navalhei a autoestima rolando meu feed do insta, deixei de seguir alguém, segui mais uma página de longevidade 40+. Chequei o grupo de fofocas dos artistas no Telegram. Também nada de interessante.
Meus meninos estavam ok, de banho tomado, satisfeitos. Lucas esquentou sozinho o próprio jantar, um grande progresso para “reizão” da casa.
Atingi o fundo do ócio e fui conferir o X ex-Twitter. Em duas postagens que li saí correndo de lá, aquele lamaçal é igualmente sedutor e movediço.
Nada estava fluindo. Voltei aos livros. Leitura não rende. Talvez colocar o curso em dia assistindo aos vídeos atrasados. Falta de paciência. A voz do professor soou deveras insuportável.
Olhei para a mesinha de canto em busca de inspiração. Ali repousavam eles, lustrosos, me olhando. Finjo que não vejo mas a verdade é que não vejo mais mesmo como antes.
Lanço mão do meu braço curto e os visto.
Fim da sensação de embaçamento. Tudo definido. Tudo claro. Pego um livro. Paz e adesão. Consigo enfim enxergar meu rumo.