Sempre fui de bem com a vida, experimentando como todos, altos e baixos. Nos tempos de divã, e uma colega do grupo Mirante pode testemunhar, dizia que na baixa seguro a onda e nos tempos de alta procuro conter a euforia. Tudo é cíclico. Casei e descasei; tento a sorte na loteria até hoje, tô no prejuízo, apesar de algumas pequenas premiações; não desisto nunca de nada. Tampouco da minha permanente adolescência vivida até os dias que já beiram setentar.
Devoto do meu time do coração. Apaixonado pelo trabalho e já se vão quase 50 anos de exercício desse prazer – desconhecido por alguns dos poucos desafetos que conquistei – começando como auxiliar de escritório até me formar em Direito e Jornalismo, sendo a segunda minha principal atividade profissional. Sem perder, como disse e insisto, esse jeito – estranho para quem não me aprecia – de eternizar a juventude. E foi nessa busca que comecei o ano, casa nova, morando no lugar que primeiro me acolheu em BH, quando pra cá me mudei em 1974. Agora posso savassiar diariamente sem tirar carro da garagem. Tô no meu ambiente. Valeu!
Pois bem, andei sumido do Mirante – faltando algumas terças em função dessa mudança quase toda no ombro -, mas agora ainda em meio a pequena bagunça, já estabelecido e estabilizado. E assim estou experimentando o primeiro carnaval que acordo e durmo com o seu ritmo nas ruas. Sou folião desde sempre, passando pela infância, juventude, vida adulta e resistindo depois de décadas. Sábado, passei por dois ambientes; no domingo, repeti a dose; ontem (segundona), extrapolei e fui em três lugares diferentes. Hoje, último dia, vou até onde a resistência permitir. Já acordei com avisos pelo corpo.
O carnaval de Belo Horizonte, sem dúvida, foi um dos maiores presentes que a vida me proporcionou. Todo ano viajava, antes para Araxá, que tinha um carnaval maravilhoso. O fechamento do Grande Hotel matou com aquela tradição. Depois andei procurando algo que me agradasse e não encontrava. Até que um prefeito da capital – ousou afrontar o folião belorizontino com ameaças de impor limites – ocasionando essa explosão que virou atração para todo o mundo. Obrigado, ex-prefeito, sua marchinha da época não me sai da boa memória. Amo a resistência e a irreverência.
Nestes três primeiros dias da festa de momo na nossa Belo Horizonte, reexperimentei tudo aquilo que vivo desde os primeiros carnavais dessa nova era. Entrar em blocos, cantar, dançar, ensaiar passos que as pernas não mais aguentam e até mesmo enfrentar uns poucos que afrontam a nós velhinhos. No domingo, caminhando da minha casa para a praça da Savassi, um infeliz jovem me abordou patrulhando por fantasiar e entrar na folia. “Véio, que cê tá fazendo aqui”? Olhei, ri, disse algo com a mesma intensidade da agressão recebida e segui em frente, ainda em tempo de ouvir sua turma debochando do próprio pela invertida que tomou.
Fora isso, só alegria, registrando ainda alguns pitacos que merecem destaque. A BHTrans e Polícia Militar, muitas vezes criticada neste mesmo espaço, foram brilhantes. Pela primeira vez, desde os primeiros carnavais de BH – pós essa nova era e já se passam mais de dez anos – o trânsito fluiu bem. Na Contorno, principal via para o entorno da cidade, nenhum congestionamento; Nos locais de blocos, tudo muito bem sinalizado e sem transtorno para o folião e quem transitava. Ah! E a PBH também, a cidade amanhece limpa. E os blocos, em sua maioria, brilho total. Um ou outro, que mereciam reavaliação, foram bola furada. Num deles, que me desloquei pra longe, o barulho do gerador abafou os instrumentos musicais e a própria cantora. No geral, o sucesso que a cada ano supera o anterior. Que venha 2025, antes ainda vou fechar hoje o da atual temporada. Assim seja!
Pós post: uma amiga me ligou, curiosa com minha resposta ao cidadão mirim que me abordou. Não sei reproduzir literalmente. Disse a ele que se me tem sido permitido viver por longo tempo, possível me manter de espírito jovem. Se ele conseguir romper esse preconceito, irá longe, caso contrário vai embora rápido ou será um velho rabugento.
*fotos: arquivo pessoal
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“Véio”, tamo junto, sempre torcendo pelo Galo e pelos melhores dias que todos merecemos. Alguns foram neste carnaval 2024. Rodei BH e fui à Rua Itararé-566, no bairro Concórdia para assistir ao @blocomagianegra e ao bloco de ijexá, na Praça México; caí em Santa Teresa, na Av. Andradas e depois no @ blocoquintaldadonaines, no Esplanada. “Véio”, a vida é esta: “subir Bahia e descer Floresta”.
Isso caro, amiGalo e ídolo Celso Adolfo!
Hoje tem mais e na quarta-feira também. E na noite de amanhã tem Galão da Massa. Bora?
Amei o texto, jovem " Duardo" de Avila. Carnaval de BH será o meu no próximo ano. Tá véio não, apenas feliz e bem usado, né?
Venha mesmo. BH e carnaval, relação que deu certo.