Peter Rossi
Nosso mundo corrido, muitas vezes, na busca do inalcançável até três minutos atrás, acaba por atrasar o relógio da vida, quando deveria mantê-lo em seu natural curso. Já falei sobre isso, em outras oportunidades.
Hoje me pego a pensar nas questões sensoriais, como nos comunicamos com o nosso entorno, nossa forma de dar e receber energia. Quando menino, aprendi que os sentidos são cinco: o olfato, a audição, a visão, o paladar e o tato. Através deles interagimos com o exterior de nossos corpos.
São eles que desfraldam as emoções, as conhecem em première. Recebemos esses contatos imediatos e reagimos.
Me lembro de momentos fragorosos da vida, em que nossos sentidos atuaram como verdadeiros astros de cinema, nos levando a sensações nunca antes experimentadas.
Quem não se lembra do primeiro beijo, o encontro de bocas e paladares, hálitos? E o toque? Percebemos que a atração física é um vulcão incontido dentro de nós, protegido por atuantes hormônios. E por aí vai, ou melhor, vão …
No início, me referi ao mundo moderno. E não é que ele acabou criando uma nova experiência sensorial, um novo sentido, o sexto, que não é aquele que as mulheres se gabam de ter? Falo do sentido conexão. Isso mesmo, hoje somos obrigados a estar amplamente conectados ao mundo, no caso o virtual, que pouco a pouco substitui a necessidade da presença humana.
Não basta mais sentir o gosto, o cheiro, sentir o toque ou ver a imagem e ouvir o som, precisamos também estar plugados, ligados, via ondas eletromagnéticas, acredito eu, a um mundo submerso em si mesmo, alcançado pelas telas de nossos computadores, tablets e celulares.
É impensável sair de casa sem um aparelho de telefonia celular agarrado à mão. Ele nos guia, nos mostra o caminho, nos permite estar sempre presentes, mesmo quando distantes e, de brinde, nos presenteiam com imagens e músicas.
Não faço aqui a defesa dos celulares, simplesmente. Sou deles um eterno dependente, mas avalio que precisamos sair de nós mesmos para nos conectar. A facilidade do tráfego, ficando em casa, em frente ao aparelho, acabou por retirar de nós alguns prazeres mundanos, como estar junto, sentir o perfume, provar os lábios, tocar o corpo. Por qual razão uma coisa exclui a outra? Essa é uma resposta que ainda não tenho, mas percebo que acontece com frequência. É comum irmos a um restaurante e ver uma família inteira, ao redor da mesa, cada um com seu celular, todos em silêncio, olhos pregados nas telas, sem qualquer interação. Não seria melhor, nesse caso, pedir um delivery, usando o mesmo celular? Pois é, e com esse tipo de atitudes, nós acabamos nos descolando das sensações e sentimentos. E vamos concordar, só vimos a outra mesa por que tiramos nossos olhos dos próprios telefones.
Os aparelhos nos permitem o exercício de alguns dos sentidos, mas não de todos. Limitam nossos sentimentos a meras reações em forma de emojis. É incrível, mas existem figurinhas que representam nossa fé, nossa raiva e nosso amor. Que loucura isso!
Estejamos atentos, é assim que a coisa anda, ou melhor, corre. Eu torço, entretanto, para que as sensações e sentimentos permaneçam intactos, sem quaisquer contaminações, afinal eles somos nós, em essência.
Se, por um lado, essa integridade é desejável, fiquemos sempre de orelha em pé, de vez em quando olhando ao nosso redor, tirando a mira da tela do celular, até para nos certificarmos de que os cabos estão devidamente conectados nas tomadas.
Aff! Câmbio, desligo!