Pelo celular

Peter Rossi

 

Era pra ser uma noite como as outras. Um bom papo com a amiga de tantos anos. Ele e a amiga seguiram até um empório de vinhos muito famoso e agradável. Já tinham saído de sua casa quando ela perguntou se ele via como problema convidar uma amiga.

Sabia que aquele não era um encontro e, de imediato, disse que sim. Não tinha nenhuma expectativa, seria apenas uma boa conversa e taças de bons vinhos.

Minutos após ser aberta a primeira garrafa de vinho a moça chegou, simpática, com um lindo sorriso. Sentou-se ao lado da amiga, bem em frente a ele. A certa altura lhe pediram para tirar uma foto, e pela lente do celular percebeu o quanto era linda aquela mulher.

A conversa esticou e lá se foram mais duas outras garrafas de vinho. Ficaram até perceber que além deles, só os garçons a empilhar mesas e cadeiras.

Engatou uma conversa sobre culinária com aquela moça, afinal descobriram que frequentaram o mesmo curso. Ela disse que tinha mil e uma receitas. Pronto! Estava aberta a oportunidade de trocarem números de celular. Um próximo contato estava garantido!

Conversaram e conversaram e quando percebeu, a querida amiga pousava de coadjuvante. Seus olhos só se deliciavam com a atriz principal, que irrompera naquele restaurante, de uma hora pra outra, sem saber de qual castelo vinha. Acho que ali já tinha se encantado. A vida é pródiga, mas não admite desaforos. Dava ali uma oportunidade de conhecer uma mulher sensacional e, com certeza, ele não se furtaria.

Sabendo dessa história, pensei eu em ficar aqui a divagar sobre como as coisas acontecem, meio despercebidas. Alguns ditam que nada acontece por acaso, outros que já estava escrito nas estrelas. Não sei … Mas isso, a verdade, é que pouco importa.

Naquela noite, ou dias após, percebi que o mundo é uma página em branco. Devemos estar atentos pois, quando menos esperamos, uma caixa de lápis de cor aparece a nossa frente. E, nessas primazias não podemos esquecer que o amor é infinitamente colorido. Ele também percebeu e não demorou a me contar o que sentia.

Uma aquarela! É isso mesmo, ela é uma aquarela a derramar contrastes e tons. E vivam os vinhos, os olhares, os sorrisos, as cores e os amores que emergem quando a gente menos espera, talvez antes entocados a esperar a melhor oportunidade, ainda que por detrás da lente de um celular. E como é bom sentir que a gente precisa mesmo desse amor, esse contraponto da vida, essa razão de ser e estar vivo.

Se encontraram e mais, várias vezes estiveram juntos. Hoje não o vejo sem aquela moça linda. Percebo que está completamente apaixonado. Não há um dia sequer que deixe de me dizer o quanto está feliz. Falar com ele pessoalmente é praticamente impossível, só tem olhos para sua musa. De minha parte, fico feliz, muito feliz, a ponto de contar a história. Mas, confesso, meu amigo, parte intrínseca de mim – espero que me desculpe, mas tenho que lhe dizer: queria estar no seu lugar!

Contar a história deles é ter a certeza de que a vida vale muito a pena, ela recomeça e dá sempre a oportunidade de viver novas experiências, novos sonhos, novos amores, novos abraços e beijos. Essa vida é demais! Que vivam o melhor que a vida possa dar, espalhada na telona do cinema, no escurinho, abraçados a não deixar que nenhum sentimento vaze. Tudo deve estar ali, entre os dois. Como diz o poeta: o mundo lá, sempre a rodar, e em cima dele tudo vale.

E vale mesmo!

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