Inveja

Silvia Ribeiro

Não adianta tentar tapar o sol com a peneira e sair por aí dizendo que “inveja” não passa de uma crendice popular e que não existe.

Entendo que se trata de um sentimento controverso, um tanto quanto gosmento, e de difícil compreensão. Por  isso tantos vieses e tantos desconfortos sobre o tema.

Desde sempre conhecemos esse lado sombrio e feio de sentir.

Algumas pessoas tentam fantasiar e colocar o que sentem num carro alegórico como se tratasse de uma folia de carnaval. Outras já a cultivam debaixo dos panos, atrelado com infernos, e castigos.

Para os mais ousados existe continuamente um atenuante.

Elegeram uma nova modalidade para tal: a invejinha branca.

Essa anda entre ruas e becos, atraente como poucos, e é antenada por natureza. E diz que não faz mal a ninguém.

Os anjinhos com asas de espinhos.

Que assim seja!

Não sei se pela influência da minha personalidade discreta e do meu minerês entranhado nas veias, aprecio um dia a dia mais acomodado, e sem olho mágico querendo saber de mim.

Gosto de guardar os meus sonhos, as minhas crendices, as minhas solitudes, e todos os demais remansos dentro de uma caixinha no fundo do meu armário. E patentear no meu coração pra que isso lhes garanta um habitat mais purificado e mais energético.

É evidente que não se pode viver enclausurado ou brutalmente reativo, tampouco com medo do mundo e das pessoas ao nosso redor. Isso fatalmente causaria um transtorno ao nosso lado de dentro, e nos cegaria diante dos cursos da vida.

No entanto, é possível um olhar mais atento, um andar menos ligeiro, e um pensamento com uma boa dose de malícia se refletindo ao entardecer.

Outro dia vi uma reflexão dessas que as pessoas publicam nas redes sociais, falando sobre o que faz alguém sentir inveja. E ela falava sobre a peculiar controvérsia entre o material e o interior.

Na maioria das vezes uma estrondosa conta bancária não te coloca na posição de “invejável”, nem no topo dos holofotes, e o pomposo cartão de crédito black passa ileso. E é exatamente nesse ponto que circunda tantas dúvidas.

Um brilho diferente.

Eu diria: o borogodó do coração, o sexy appeal da alma, ou um tesão rarefeito.

Efeitos que não vive em vitrines.

Lá vem o provérbio:

Cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém. Já dizia minha avó.

E pra não esquecer:

Seguro morreu de velho. Já dizia o meu pai.

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