Prisioneira

Rosângela Maluf

 

Minha cela está branca
nada escrito nas paredes
minha cela está fria
nenhum raio de sol.

Triste a minha cela
sem cores
sem flores
na janela.

Retenho pequenas coisas
prisioneira que sou
de um vidro
agora vazio,
do perfume
que acabou;

Da revista já relida
de uma lata de biscoitos
da velha meia de lã
do meu cobertor furado
o espelho quebrado
junto do livro rasgado;

Fotos já desbotadas
junto a um violão sem corda.
Vazias latas de talco
sabonete sem perfume
e essa toalha molhada…

Me prendem o esmalte vermelho
um batom , de cor grená
uma escova de cabelo
outra de dentes, branquinha…

Presa a tudo, estou mais presa
por só ter o que me prende
rezo um terço, agradeço
e na branca cela minha
com o rosário na mão
vou cantando a ladainha
enquanto olho e me prendo
a uma foto antiga, velhinha!

4 comentários sobre “Prisioneira

  1. Gostei do texto, mas achei triste demais. Você prima pelos detalhes, o cobertor rasgado, o violão sem cordas, toalhas molhadas etc.. parabéns!

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