Peter Rossi
Suzana recebera a notícia que Sandra, sua irmã estava passando mal. Saiu em disparada para o hospital e, como morava mais perto, chegou bem antes. Estava repleto o local. Ela corria os olhos e percebia uma fila de atendimento enorme. Dezenas de pessoas a esperar sua vez, algumas lamuriando e outras simplesmente caladas.
Cerca de quinze minutos depois, o carro de Sandra, conduzido pelo filho mais velho, chegava na porta do hospital. Suzana, mais que depressa, correu e fez sinal para que o motorista abrisse a janela.
– Sandra, pelo amor de Deus, desmaia! Se você não desmaiar jamais será atendida e a coisa pode piorar, vai demorar muito.
Virou para trás e saiu em busca de uma cadeira de rodas. Quando chegou com o apetrecho e com ajuda do sobrinho, sentou Sandra que jazia completamente apagada. Suzana conduziu a cadeira de rodas e aos gritos alertava a todos: – ela está desmaiada, está fora de si!
Os enfermeiros e outros profissionais logo vieram ao seu encontro e conduziram Sandra para um consultório médico. Suzana seguiu e em poucos minutos as duas irmãs estavam à espera do doutor.
– Pronto Sandra, deu certo, pode parar de fingir. Você já vai ser atendida. Vou chamar o Júnior enquanto saio prá fumar um cigarro, estou nervosa demais.
Num rompante porta afora, só fez sinal para o sobrinho, que àquela altura já tinha estacionado o carro, para que fizesse companhia a Sandra. Ela voltaria logo.
Enquanto se divertia, na calçada, com a fumaça do cigarro, Suzana se vangloriava de quão esperta era. Tinha conseguido atendimento para irmã, antes de qualquer um, embora fossem muitos os pacientes na fila. Por alguns segundos, é verdade, sentia um pouco de culpa e vergonha pela mentira, mas logo esses pensamentos se dissipavam, até porque era justa, a seu ver, a intenção.
Terminado o cigarro, voltou até onde estava Sandra, e percebeu a irmã, ainda desfalecida.
– Gente, o que houve? Já falei Sandra, não tem ninguém aqui, só você, o Júnior e eu, pode parar de fingir.
E nada da irmã acordar ou dar sinal de vida. Suzana pegou a mão de Sandra e sacudiu. A irmã continuava inerte.
– Que brincadeira mais besta, Sandra!
Nesse momento um médico, acompanhado de uma enfermeira, entram no quarto e iniciam procedimentos clínicos. A enfermeira, pelo rádio, pede ajuda a colegas de trabalho, no sentido de preparar a sala para procedimentos mais graves, a paciente de fato estava desfalecida, embora com pulso e respiração.
Suzana, ao ouvir aquilo, sentiu as pernas bambearem e não conseguiu se manter de pé. Acabou desmaiando também.
Foi quando o médico, assustado, perguntou ao Júnior:
– É sempre assim? Na sua família o desmaio é contagioso?