Daniela Piroli Cabral
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Eu sinto muito
Que a vida tenha te maltratado
Que você não seja capaz de reconhecer suas vulnerabilidades
Que você não consiga relações sem hierarquias
Que você tenha desistido
Se é esse o único caminho que consegue ver
Eu sinto muito
Que a inveja te impeça de sentir alegria pela felicidade alheia
Que a necessidade de dominar te cegue para se conectar com o humano
Que a necessidade de ter razão tenha te levado à falta de intimidade
Eu sinto muito
Que você não admita que as pessoas possam viver sem você
Que a necessidade de ganhar te impeça de ser generoso
Que você tenha sido incapaz de aprender com a própria experiência
Eu sinto muito
Que as feridas ainda sangrem
Que a riqueza seja medida pelo dinheiro
Que o tempo seja medido pelo relógio e não pela experiência
Que a linguagem seja da violência, da humilhação, da servidão e do ressentimento
E não a do amor
Eu sinto muito
Que a amargura tenha te ensurdecido
Que o trauma tenha te machucado
Mas sinto mais ainda que você esteja rodopiando, paralisado, no tempo dele
Eu sinto muito
Que a velhice lhe seja torturante
Que não sinta orgulho das sementes
Que a distância tenha virado abismo
E que o abismo tenha virado um nada
Eu sinto, apenas.