Às vezes, ainda parece que você está me esperando sair da escola, ao pé da escada. Você vem de Kadet ou de Monza, e eu sei que quando entrar no carro rumo à nossa casa, tudo estará resolvido. Sua presença serenava o fim de toda tarde.

De vez em quando, você trazia no bolso da camisa um “Bolimbola” que retirava anunciando a surpresa. Você sempre me deu doces e livros. Doces e livros. E até hoje são essas as minhas coisas preferidas.

Seu cabelo é todo branco mas eu ainda o enxergo preto. Você não me parece velho aos seus 75 anos. Para mim você tem 41, menos que a idade que tenho hoje. Esta foi a primeira idade sua de que tomei consciência e será a sempre a única.

Você não sabe, pode achar que é genética, mas te copiei em tudo. No jeito, na personalidade, em gostar de dormir cedo, na necessidade do silêncio, no amor pelos amigos. Nas leituras infindas, no gosto por caqui e por café, no prazer de conhecer novas cidades. O Leo diz que sou você. Serei sempre igual a você porque você é o melhor que posso ser nesta vida. Ensino aos meus filhos o que você me ensinou. Falo com eles como você falava comigo. Espero um dia chegar a ter a sua serenidade.

Você é meu amigo, sempre foi. Sempre me ajudou, apoiou, protegeu, orientou. Eu só posso te agradecer por tudo e dizer que não tenho honra maior do que ser sua filha e de aprender com você o que aprendi e aprendo. Sua sabedoria. Sua bondade. Sua empatia, sua doação.

Quando criança, você inventou um cavalo imaginário para mim. Segui com ele por toda a vida e juntos cavalgamos por lindos caminhos, campos muito verdes e sob o céu aberto. Ele me levou para conhecer o mundo e amá-lo, permitiu-me contemplar muitas belezas. Estarei sempre nele, feito uma amazona. E seguiremos assim até o infinito. Ele se chama Luar de Prata. Ele era seu e você me deu.

Tais Civitarese

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