Tem que morrer pra germinar

 

Daniela Mata Machado

Tudo o que quer me dar
É demais
É pesado
Não há paz

Tudo o que quer de mim
Irreais
Expectativas
Desleais
(Vanessa da Mata)

Eu hoje quero falar de tarô. Quero dizer, mais especificamente, de uma das cartas que mais assombra as pessoas: a carta da Morte. “A morte é transformação”, nos avisam logo, quando a gente arregala os olhos diante daquela carta que traz a imagem de um ceifador com a cara do Esqueleto (sim, aquele vilão do desenho He-Man, que você certamente conhece se tiver mais de 40 anos). Não é mentira. Nem é mentira que geralmente a carta da Morte não se refere à morte física. Há cartas muito mais enfáticas para esses casos. Mas certamente o arcano 13 do tarô não é suave como aquele tarólogo gente boa quis lhe fazer parecer. A Morte encerra o que, muitas vezes, você preferiu suportar por longos períodos – pendurado de cabeça para baixo, enquanto vivia a carta do Enforcado – porque tinha medo de não resistir à dor do fim.
Se você vem dedicando toda a sua energia a um projeto que era o sonho da sua vida, mas ele nunca lhe trouxe retorno, a Morte lhe avisa que é chegada a hora de acabar com isso.
Se o seu casamento vem se sustentando há anos sem nenhum amor ou cumplicidade e você tem preferido viver sozinho, com a sombra de alguém que nunca está ao seu lado, a carta da Morte lhe avisa que isso vai terminar. Não é novidade para ninguém no mundo, mas é muito provável que isso lhe doa.
A Morte também vai lhe ajudar a se soltar daquela amizade que você vinha fazendo questão de manter, em meio a um incômodo cada vez mais presente, por acreditar que era obrigado a suportar qualquer coisa em nome do que se acostumou a chamar de amor. Não é fácil encerrar o que você nutriu por muito tempo. Mas o tarólogo não mentiu, acredite. Derrubar o que já não se sustenta de pé pode ser profundamente transformador.
É quase dezembro e 2023 está terminando. Não sei como é isso para você, que lê esta crônica, mas aqui soa como o fim de um imenso período sob a vibração do Pendurado. Desde 2020, tenho visto inúmeras pessoas suportarem uma variedade imensa de dores que foram se ajustando ao corpo, como sapatos que apertam os pés ou alianças de casamento presas em dedos que engordaram. Entretanto, na semana passada a flecha de Sagitário, cruzando o céu dos astrólogos, chegou até mim como a carta da Morte.
Individual e coletivamente, nós temos medo dos cortes. Mas a essas alturas já é tempo de termos aprendido que a condenação para quem não tem coragem de romper com o que dói é passar a vida inteira dentro de um casulo, sem jamais experimentar o voo da borboleta. A vida pode ser breve demais para perdermos tanto tempo suspensos em alvéolos, como bichos-da-seda. É hora de ceifar. E, sim, isto é transformação.

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