Silvia Ribeiro
Depois de algumas perdas percebo que vamos nos embrutecendo.
Deixamos de resgatar as nossas forças e acreditamos numa provável sensação de congelamento, incrivelmente compatível com a história que estamos vivendo.
Tem dias que o coração fala assim: você está predestinado à dor.
E ele fala como se fosse o senhor de todas as feridas e de todas as cicatrizes, comungando das suas inveteradas pós graduações.
É preciso uma rebeldia estonteante pra amparar esses altos e baixos que permanecem em vigília e cheios de não me toques, pra que outros sentimentos que nos destrataram não se tornem objetos de estimação.
Algo que lembre uma dessas mulheres gostosas que ao atravessar a rua param o trânsito.
Claro que não é tão simples como gostaríamos e nem tão lúdico como deveria.
No entanto, podemos deletar essas cenas horripilantes e essas torres emotivas desabando em nossas cabeças, antes que elas resolvam protagonizar um filme de terror.
O enredo é des(humano).
Muitas noites somos nocauteados por grossas lágrimas e por emoções dolorosas que diminuem o brilho da vida, e que ficam de um lado pro outro querendo conversar sobre algum assunto. E como se não bastasse, elas ainda teimam em dividir o lençol com a gente sem uma minúscula cerimônia.
As vezes podemos contar com um entardecer de lembranças e de saudades cúmplices nos dilacerando e nos perfurando tal qual um espinho cortante, pra que a nossa alma entenda o que é uma despedida e pare de chicotear as pluralidades do destino.
E por mais que tudo isso pareça piegas, um tanto quanto desinteressante, esperamos por um desfecho indolor, e menos intransigente. Um noticiário que se acomode melhor nos nossos términos, e que vá pro lixo com letras mais miúdas.
Quem sabe assim a caminhada se torne mais resiliente, a dor menos barulhenta, e o vazio não encontre tanto espaço nos nossos diários.
Cruzo os dedos, repito mantras, canto orações, peço aos cristais, converso com o universo, me perfumo de incensos. E sei que um dia haverá um vale a pena ver de novo.
Penso que o tempo seja a anestesia mais eficaz, a cura mais cirúrgica, e o alívio mais propício.
No mais, dobramos a esquina e lá estão as nossas perdas e danos.
…quando perdemos algo, sinto que abre espaço para algo novo, muitas das vezes imperceptíveis no momento, mas com o tempo percebemos que na vida tudo temos é passageiro.
Sem dúvida nenhuma.
Que tal o título: PERDAS E DANE-SE
Pode ser uma opção.
Sensacional como sempre
Obrigada!