Quando o preconceito racial é demais, transborda. Na maioria das vezes, pela boca. Certa vez, ainda no início do relacionamento com meu marido, ouvi de uma ex-chefe (graças a todos os deuses) que mulheres brancas que se relacionam com homens pretos são sujas. Quando questionei a fala, pela violência expressa contra a minha escolha, a criatura agiu como todo racista, com uma desculpa cínica. “Não sou eu que estou dizendo, mas o meu pai é que sempre fala assim”, disse com um sorrisinho no rosto.

Resolvi não render a conversa, mesmo porque não havia nenhuma lei contra esse tipo de comentário infeliz na época. Em certos casos, ser feliz é uma resposta melhor que bater boca. Logo que tive condições, nunca mais olhei ou cumprimentei. Certos tipos é melhor não conhecer…

Quando saíamos juntos, os olhares de reprovação eram comuns. Aqui e ali, havia um quê de lamento expresso nas faces pela minha escolha. Eu nunca me importei. No máximo, devolvia o olhar com todo o sarcasmo da minha alma. Porque quem olha para o outro pede para ser observado mais detidamente. E defeito todo mundo tem o seu…

Com o tempo, descobri que o racismo também se une ao machismo para assediar mulheres que se relacionam com homens pretos. A impressão que tenho é que eles se sentem frontalmente atingidos. Em suas mentes mal resolvidas, acreditam que a auto promoção pode desestabilizar o relacionamento do concorrente.

No entanto, a concorrência na qual apostam existe só na cabeça deles, porque do outro lado esse assunto nem entra na pauta. Afinal, quem é de fora não tem que dar palpite, principalmente quando não solicitado. Para além da concorrência dos machos latinos, o racismo chega ao ponto de negar ao homem preto o direito de estar com a mulher que ele quiser, ao mesmo tempo que tenta constrangê-la pela sua escolha e desejo.

Vivemos em um mundo no qual é cada vez mais difícil demonstrar que estar bem com alguém é algo possível. Como a ideia do sucesso que incomoda, gente que consegue ser feliz no amor não é algo que a sociedade aceita de bom grado na maioria das vezes. Ao invés de buscar sua receita de felicidade, essas figuras trevosas se ocupam de acompanhar a vida dos outros, como fazem com a novela.

Porque a cor da pele e o tipo do cabelo não são os aspectos principais de uma história de amor. São uma parte importante do indivíduo e merecem toda atenção e respeito. Afinal, para se relacionar com o outro é preciso compreendê-lo na sua essência e nas suas diversidades. Estar disposto a viver e aprender continuamente inclusive para saber que apenas o gato teria sete vidas e que, se cada pessoa se concentrasse apenas em cuidar da sua, o mundo seria um lugar bem mais agradável.

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