Daniela Mata Machado
@dani.mata.machado
Quem tem um amigo tem tudo
Se o poço devorar, ele busca no fundo
É tão 10 que, junto, todo stress é miúdo
É um ponto pra ancorar quando foi absurdo.
(Emicida)
Às vezes nós passamos meses sem trocar uma única palavra. Aí nos encontramos e conversamos por horas seguidas, como se ainda nos víssemos, diariamente, no mesmo pátio da escola. Ela é minha amiga há mais de 30 anos (ia dizer quase 40, mas isso pode me tornar velha demais, de modo que estou achando melhor manter os mais de 30) e talvez tenhamos duas ou três fotos postadas juntas. Não mais que isso.
Com a outra, eu converso todos os dias, sobre os assuntos mais variados, quase sempre pelo whatsapp. Choro pitangas, conto casos, ouço histórias, trocamos dores e confidências do cotidiano, jogo tarot para ela – que é intelectual, cética e tem um nome a zelar, mas, secretamente, confia nas cartas que eu embaralho – e conto com ela para absolutamente tudo nesta vida, inclusive para ligar chorando, sem pedir licença, quando acho que o mundo está caindo sobre a minha cabeça (e geralmente nem está). A rede é apenas o meio de comunicação que nos mantém conectadas. Praticamente o tempo todo.
Tem uma que é da família, mas foi a amizade quem tornou irmã e me agregou num bando capaz de me acolher com todos os meus silêncios e idiossincrasias, guardando minha cadeira cativa numa festa de Natal em que eu me redimo todo fim de ano pelos longos intervalos.
Tem aquelas com quem eu amo tomar café, comer quitandas e falar da vida, dos sonhos e das maluquices, fazendo planos que uma hora dessas poderão mudar o rumo das nossas vidas inteiras. A gente às vezes some, mas logo sente falta dos cafés, dos bolinhos, do futuro que vamos planejar e do amor que transborda nos nossos bate-papos intermináveis.
Tem gente que vive longe, mas o coração bate sempre muito perto, e tem aqueles que somem por anos, mas aparecem, numa quarta-feira à tarde, com uma mensagem no whatsapp: “Estou indo pra BH amanhã. Você me encontra?”. E eu desmarco tudo o que tiver agendado porque naquele momento o reencontro é urgente.
Na semana passada, Gregório Duvivier fez uma edição do programa “Greg News” sobre a amizade. Mas o que ele disse foi avassalador para alguém como eu, movida ao afeto desses seres que me são tão caros: ele disse que está cada vez mais comum encontrar pessoas que não têm amigos. E explicou que as redes sociais têm a ver com isso. As pessoas se encontram para fotografar e postar. E a amizade exige uma coisa que não cabe no Instagram: a intimidade não funciona bem com filtros ou lentes que distorcem rugas, atenuam cicatrizes e escondem vulnerabilidades. Eu senti um misto de tristeza e compaixão assistindo àquele programa. Estou, inclusive, disposta a rever a minha quase irrevogável posição sobre os áudios com mais de 3 minutos no whatsapp. Se forem de amigos, estão liberados. Só não deixem passar de 5 minutos, se possível. Nesse caso, podemos trocar por umas quatro horas de conversa presencial, com café, bolo e pão de queijo. Fechado?
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Me achei no texto!! Amei! Só pra variar!!