A espera – Um conto de hospital

Marcelina nasceu com uma síndrome incerta.
Desde muito nova, seu desenvolvimento não acompanhou os marcos da idade. Andou tarde, falou mais tarde ainda. Não sabe ler ou escrever aos 16 anos. Seu temperamento é o de uma menina doce e gentil. Interessa-se por assuntos de criança, expressa-se de forma deveras simples.
Um dia, pediu à sua mãe uma boneca. Queria uma bebê “reborn”, igual às que tinha visto em vídeos da internet. Era uma boneca moderna, com formas orgânicas, fabricada para parecer idêntica a um bebê real. Custava caro. A mãe teria que juntar dinheiro. E prometeu: a boneca-bebê de Marcelina chegaria no Natal.
A adolescente ficou ansiosa. Esperava por seu bebê avidamente. Sua barriga começou a crescer. Ela parou de menstruar. Seus seios passaram a doer e, em algumas semanas, vieram a gotejar leite.
Os sintomas causaram desconfiança. A mãe levou-a a uma consulta médica.
Ao doutor, Marcelina disse que não havia tido relações sexuais com ninguém. Nunca tivera. Tomava injeções de anticoncepcional mensalmente por conta da baixa cognição, para sua própria segurança.
Foi levada ao ginecologista, que confirmou a situação.
A quem lhe perguntasse sobre seu estado gravídico, ela confirmava: estou esperando o meu bebê.
Enfim chegou o Natal. Marcelina ganhou a boneca-bebê. A alegria substituiu toda a sua aflição anterior. E em pouco tempo, os sintomas de gravidez desapareceram.

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