Luciana Sampaio Moreira
Envelhecer é uma tarefa cada vez mais difícil neste mundo repleto de fórmulas da juventude. Retardar as rugas e, no meu caso, os efeitos da famigerada menopausa, são tentativas para as quais tenho obtido sucesso relativo. Então, se não é possível vencer a ação do tempo, constato que o melhor é me unir a ele e, paralelamente, aderir a um estilo de vida que me possibilite fazer as coisas de forma sustentável sem colocar meu círculo de relacionamento em constante sinal de alerta.
Moro em um apartamento. Outro dia ouvi de uma conhecida que “apartamento é vida”. E eu realmente acho que é. Embora tenha a sua carga de trabalho, é bem inferior à de uma casa com terreiro e varanda. Não se compara. Ao constatar que os velhos sobrados do Gutierrez, onde moro, estão sendo substituídos por edifícios e torres com rapidez nos últimos anos, entendo que o serviço doméstico, a preocupação com a segurança e, principalmente, os custos de manutenção já não estão na prioridade das famílias atuais.
Da mesma forma, aquelas práticas de risco testadas durante a vida inteira em escadas, banquinhos e chãos molhados, não podem ser eternizadas. Há aventuras melhores! Penso constantemente em simplificar as coisas e os processos, dimensionar o tamanho das panelas ao número de bocas e reduzir certas cargas para ter tempo de me dedicar a atividades mais leves e prazerosas.
Caminhar para a velhice tem me imposto a necessidade de avaliar outros cenários e percepções. Viver é melhor que sonhar e as experiências estão aí, em cascata. No entanto, é preciso avaliar quais as opções que se adequam a minha condição física neste momento.
Como não tenho filhos para herdar meu espólio, faço um exercício de desapego. As vezes consigo, as vezes não. Mas eu tento. Minha meta é deixar algum legado que possa ser aproveitado por alguém. De forma clara, não quero me tornar uma cruz no caminho de algum bom samaritano.
As dificuldades estão por aí nos testando todos os dias e por isso não quero ser mais uma fonte de desafios para quem me cerca. Se quero saúde e paz, eu também tenho que desejar isso para os outros e – mais – entender que o direito que pleiteio deve estar acessível para todos.
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