Gregório era um solteirão de meia idade, morava sozinho em seu amplo e bem decorado apartamento, recebido de herança dos pais, ambos falecidos. Como filho único, não precisou se envolver em brigas de família nem lidar com litígio no inventário. Pelo contrário, o pai, viúvo que era, tratou de se preparar para o momento da sua morte, transferindo, ainda em vida, o imóvel ao então jovem Gregório.
No entanto, o maior medo do herdeiro era morrer na miséria, a despeito da robusta economia recebida e do imóvel em seu nome. Economista que era, habituara-se a medir o mundo pelas equações das planilhas e fluxos de caixa. Vivia com o mínimo, poupava mensalmente grande quinhão do ordenado, pensando no futuro e na velhice.
Era mestre em controlar seus próprios desejos e resistir às tentações de consumo. Contabilizada tudo: os níqueis, o tempo, os afetos. Dessa forma, conseguia manter longe de si o medo do seu desafortunado destino.
Nem preciso dizer que a sua solteirice não era em vão. Namoradas havia tido, mas com o passar do tempo, ficava claro que Gregório era um avarento não só no bolso, mas também no coração. Desenvolvia uma relação mesquinha ao lidar com elas: O que eu vou ganhar com isso? Para que sair se podemos ficar no conforto de casa e ainda economizar?
De outras vezes, quando sentia-se no prejuízo, financeiro ou emocional, tratava logo de reequilibrar os saldos com tratamento de silêncio, menosprezo, desdém ou até mesmo xingamentos. Isso o aliviava internamente concedendo-lhe a certeza do “ganho”. Afinal de contas, não podia perder nada, nem dinheiro, nem discussões.
Amigos, eram raros e com alto nível de rotatividade. Tão logo se davam conta do caráter altamente utilitarista de Gregório, tratavam de dar no pé, queixando da falta de reciprocidade. Dizem por aí, que nos churrascos, Gregório levava cerveja barata e um pedaço de linguiça, mas se fartava de picanha e cerveja artesanal. Sem essa consciência, havia se tornado um usurário da intimidade.
E assim, levava uma vida extremamente pobre: nenhuma experiência de viagem, nenhuma orgia gastronomia, nenhuma extravagância em datas especiais. Nada. Nem preciso dizer que o fim de Gregório foi solitário e infeliz. Morreu de um infarto fulminante, em casa. Seu corpo só foi encontrado dias depois, já em estado de decomposição. O porteiro tentou-lhe entregar a correspondência e não obteve resposta. Fora isso, ninguém reclamara seu corpo nem sua alma.
Em seu testamento, pediu que fosse enterrado em um caixão de madeira nobre, revestido de ouro e cravejado de brilhantes. Não designou nenhum herdeiro, não deixou nenhuma memória que merecesse ser lembrada, nenhum vestígio de generosidade de sua passagem por este mundo. Gregório teve uma existência tão miserável que a única herança deixada foi mesmo o dinheiro.
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