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Tem alguém precisando te ver

Silvia Ribeiro

Todos os dias a gente aprende alguma coisa.

Hoje eu aprendi que batem à nossa porta, e confesso que até outro dia eu achava que não.

As vezes a campainha toca só pra dizer: oi, vim saber de você.

Vamos deixar claro que isso infelizmente não é uma via de regra, no entanto digamos que o inusitado também acontece.

Com o passar dos dias não temos tempo pra lembrar da existência do outro nem disposição pra atravessar estradas. Estamos ocupados demais com a importância que nos damos.

Antigamente era simples pegar um ônibus ou até mesmo caminhar longas distâncias pra rever afetos. Tomar aquele cafezinho gostoso e fofocar sobre as nossas doidices, misturar as nossas lembranças com bolos e doces, e sentir a felicidade na ponta da língua.

Hoje é preciso pedir licença pra fazer uma ligação, ou uma autorização pra uma visita, sob pena de ser taxado de mal educado ou intruso. Não é que eu seja contra regras de uma boa educação, só acho que todos esses melindres tiram um pouco do brilho da imprevisibilidade e da euforia do fator surpresa.

E como é bom quando alguém toma essa iniciativa e faz esse carinho na nossa alma.

Não escondo que fico com inveja e com vergonha de não ter sido eu a protagonista de um aconchego tão gostoso. E me aborreço com essa bendita agenda que não cria asas.

Re(encontrar).

É poder sentir aquelas mãos estendidas em forma de palavras, aquele abraço sem filtros e sem pressa, é ouvir aquela risada que nunca deixou de fazer eco dentro da gente, é rever aquele olhar que as vezes nem nos lembramos mais como era, é meter o dedo na cara do tempo e dizer que ainda resistimos e existimos, é um dengo no coração sem que ele precise pedir.

Temos o hábito de dizer: quando a gente precisa ninguém aparece. Aparece sim.

Aparece porque o amor avisou de você, porque os sonhos falaram de você, porque a sintonia chamou por você.

Aparece porque a saudade disse: tem alguém precisando te ver.

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