O meu amigo está de luto. As lágrimas estão presas nos seus olhos vermelhos, prestes a cair. São lágrimas que revelam o preço do amor, a força do vínculo e a dimensão do afeto que foi perdido.
A despeito das inúmeras perdas já vividas antes, a de agora é diferente, é a soma de muitas perdas: irmã, amiga, mãe. É perda árida na concretude da ausência, mas também perda simbólica: do bom-humor, do carinho, da bondade, da sensibilidade. O luto de agora se faz, espinhoso, severo, coloca-o em lugar de desamparo e de vulnerabilidade nunca antes sentidos.
A perda fez desbotar até a sua paixão mais intensa. Roubou-lhe a graça do futebol.
Digo-lhe algumas palavras de consolo, mas sei que elas são inertes. São minúsculas partículas de poeira em um deserto infinito de dor. Melhor mesmo é deixar ele mesmo falar e ser apenas escuta, lugar de esperança.
Meu amigo questiona sua própria fé. “Por que ela? Por que agora? Por que assim?”
Meu amigo questiona o tempo. “Já se passaram 16 dias…” Meu amigo ignora os desígnios da temporalidade. O primeiro aniversário, o primeiro natal, o primeiro ano novo. Ele não sabe, mas entrou num longo ciclo de reorganização de si mesmo sem ela.
A cura vem com o tempo. Com linhas tênues, as memórias do passado vivido precisarão ser re-tecidas com as possibilidades de um futuro interrompido. Sua chance de continuidade vem daí.
Meu amigo não sabe, mas precisará caminhar alguns quilômetros sem mapa e sem bússola pelos caminhos da ambivalência, entre os pólos da saudade e do seu novo eu.
Meu amigo sabe que a vida é boa, mas ignora a fumaça espessa que borra sua percepção no momento.
Meu amigo não sabe que quem a gente ama, não morre.
Quem morre é a gente mesmo.
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Belo texto. Cai como bálsamo consolador ao nosso amigo, ferido em razão da recente perda da irmã querida.
Maravilha de texto! Daniela tocou profundamente. Isso é a vida. Não podemos questionar os desígnios do nosso MESTRE JESUS. FICA BEM QUERIDO AMIGO Eduardo. FÉ E FORÇA. SABEMOS O QUE É A DESENCARNAÇÃO. NÃO DEIXA SUA FÉ ABALAR. GRANDE ABRAÇO FRATERNO.
Sua sabedoria e seu afeto aparecem no texto como as flores da ilustração inicial: suavizando, clareando, fazendo sorrir, aquecendo o coração não apenas do Eduardo, mas de todos nós que já vivemos situação semelhante.
Obrigada.
Se eu tocasse o saltério, eu dedilharia suas cordas enquanto Daniela recitasse este parágrafo que ela escreveu: "Meu amigo não sabe, mas precisará caminhar alguns quilômetros sem mapa e sem bússola pelos caminhos da ambivalência, entre os pólos da saudade e do seu novo eu."
Se eu tocasse o saltério, eu dedilharia suas cordas enquanto Daniela recitasse este parágrafo que ela escreveu: "Meu amigo não sabe, mas precisará caminhar alguns quilômetros sem mapa e sem bússola pelos caminhos da ambivalência, entre os pólos da saudade e do seu novo eu."