Colo – Fonte: Arquivo pessoal – Foto tirada pela autora em 22/11/20, na Serra da Moeda.
Daniela Piroli Cabral
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O sol entrou em sagitário e eu entrei no inferno astral. Estou fechada para balanço. Não acredito em astrologia, mas nesta época, próxima do meu aniversário e do fim do ano, entro em processo de introspecção. É hora de realinhar as velas do barco da vida. E esse ano, especialmente, há muito a ser avaliado.

Foi um ano de muitos desafios, individuais e coletivos. Foi um ano de muitas mudanças, internas e externas. Cheguei ao fundo do poço e descobri que ele é sempre um pouco mais fundo, escuro e frio. Senti a fragilidade do corpo, o coração vulnerável, olhei no olho do desamparo.

Descobri que sou limitada e que, muitas vezes, sou eu mesma o meu limite mais intransponível. Sinto muita falta do contato físico, da interação olho no olho, sem mediações virtuais. Todos precisamos de colo, vez ou outra. Mas eu preciso como nunca. Estou aflita. Estou sem energia para surfar a segunda onda. Preciso de colo.

Colo que é amizade e amor. Colo que é gentileza, segurança, afeto. Colo que é cheiro, toque, carinho. Colo que dá paz e acalma o coração da gente. Colo que é cuidado, escuta, empatia. Colo que é toque, calor humano, que acalenta o nosso corpo. Colo que é abraço apertado, tão escassos ultimamente.

Preciso de colo e ele vem em novos formatos. Ele tem a forma de um sorriso de criança através da videochamada, de mensagens de texto: “oi, tudo bem aí?”, “se cuida”, “não se entregue”. Ele vem na forma de lambida de cachorro, de raios de sol e de vento no rosto. Ele tem o som de música leve e alegre compartilhada pelo aplicativo de mensagens. Ele tem o gosto de açaí com banana, de milkshake de morango, de espumante rosé ou de café preto coado na hora.

O colo vem  hoje com cheiro de álcool em gel, tem a configuração de campos de margaridas, orquídea branca e rede verde. Ele acontece nas in-versões da vida, no colo de filha. Ele acontece no trabalho, quando me transmuto em socorro e “voz de humanidade”.  Ele é a força da natureza que sempre se regenera. O colo hoje tem o silêncio da leitura dos poemas de Adélia Prado, sagitariana também do dia 13. O colo hoje vem como as primeiras lembranças de presença de mãe, vínculo e cuidado. Lugar de conforto que posso acessar qualquer momento através da memória.

Quero colo. E ele assim se apresenta. E eu assim o recebo. Sei que não estou só.

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Tags: Colocuidado

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