Taís Civitarese
Em tempos de aquecimento global, venho falar sobre um outro problema climático relevante: o climão.
Ele é capaz de produzir tsunamis de fúria e instaurar marés altas de paz.
É capaz de derreter corações gelados e gerar um mal estar sufocante em quem merece repensar as próprias atitudes.
Com o perdão da comparação esdrúxula, há que se valorizar o climão.
O climão é o mal estar que se instala quando há alguma discordância no ar. É um conflito social frio e silencioso pautado em expressões faciais. É aquela sensação horrível que surge quando alguém se posiciona contra um absurdo que ouviu. A tensão invisível que paira quando a falta de harmonia entre as pessoas prevalece.
Por muito tempo, tive medo dele. Não suportava essa sensação. Fazia de tudo para dissolvê-la, especialmente se a causadora do problema era eu.
Ao dizer algo que alguém não gostasse, baixava a guarda, falava qualquer coisa para acalmar os ânimos e até dava a impressão de não estar assim tão firme em meu posicionamento.
Com isso, as palavras iam perdendo a força e o potencial transformador do climão criado era diminuído. Ninguém nem se lembrava mais de que ele existiu.
Há pouco tempo aprendi a sustentar o climão. Sim, como um filho. Se falei algo que acredito, mas gerou mal estar – sem necessariamente ser indelicada ou ofender -, eu me calo. Aguento. Não volto atrás. Deixo o climão ocupar os espaços. Suporto a cara feia, o silêncio, a antipatia.
Mantenho a cabeça erguida e a opinião.
E prossigo.
O climão naturalmente se dissolve ao cabo de algumas horas e, às vezes, traz uma recompensa em seu fim. Um pote de ouro, uma reflexão, um passo atrás que o outro venha a dar.
Quando não traz, vale também pelo exercício.
Parece básico tudo isso.
Mas foi tão, tão difícil.