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Esse destino é uma delícia

Silvia Ribeiro

Depois de tantos desencontros e variados caminhos tortos, chego a um novo destino.

Me parece um tanto confuso, a estrada é tortuosa, existem alguns labirintos e muitos cruzamentos.

Será aqui o meu lugar?

Sigo, e algumas coisas começam a fazer sentido, vejo alguns traços e eles lembram a minha silhueta. As paredes cheiram a tinta fresca e o chão parece que sabe dançar.

Ao caminhar ouço risos brincando de sonhos e pés girando tal qual uma ciranda de roda, e percebo que o tempo já não é mais o mesmo nem os personagens são duradouros.

Alguns passos dali…

Lá existe uma mulher doce com enigmas arrebatadores, suas saudades têm um brilho de alegria, o seu salto exibe um gingado atrevido, as suas mãos pequenas falam de loucuras sem limites. Mas, o seu rosto tem sinais que eu não consigo decifrar.

Me aproximo e a visão me parece nítida e sem maquiagens, algumas cicatrizes se mostram intactas como se ali fosse o seu berço, as suas paixões possuem barulhentos remendos e algumas lágrimas ainda escorrem timidamente provocando um alvoroço de “tudo poderia ter sido diferente”, no entanto não carregam um ar de tristeza.

Uma curiosidade afiada se apossou de mim e eu resolvi andar mais um pouco, até pra que eu pudesse experimentar aquele banquete de imagens e memórias que se desenrolavam diante daquele conteúdo desembaraçado percorrendo respostas que eu nunca tinha visto. Aquele lugar possuía narrativas e sentimentos que eu queria poder tocar.

Num dado momento vi uma multidão de pessoas num entra e sai veloz, pulando etapas, rasgando páginas, jogando fora preciosas emoções, indo à caça de objetivos que englobam apenas o próprio umbigo. E como se vivessem num mundo à parte provocavam trincas por onde passavam sem a menor cerimônia. Muitas pessoas se esbarravam e não se viam.

Aqueles cômodos eram cercados por variações de desimportâncias vivendo em verdadeiros pedestais completamente avessos às minhas buscas, então achei melhor encurtar o caminho e diminuir os passos. Era um ambiente sem aconchego e não me agradava.

Seguindo em frente…

Como se eu tivesse feito um pacto com o tempo percebo que eu não estou mais no mesmo lugar e que algo ou alguém havia se interessado pela minha história mudando todo o curso daquela viagem.

Não reconheço aquele perfume impecável, aquela gargalhada despojada, aquele olhar carregado de gestos, aquele coração cheio de assunto, aquela pele máscula, aqueles cabelos sedutoramente despenteados, aquele frescor de quem acabou de sair do banho e todo aquele ineditismo que vinha acompanhado de intrigantes segundas intenções.

Ainda assim, decidi dar à eles o rumo que eu desejar: esse destino é uma delícia.

*
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