Daniela Piroli Cabral
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Das minhas amigas, fui a primeira a me tornar mãe. A novidade foi muito festejada, desde bebezinha, Laura teve muito carinho, mimos, presentes e passeios na praça com as tias de primeira viagem, sempre afetivas e curiosas sobre a maternidade.
Uma vez, a questão veio, ingênua como toda dúvida:
– Dani, o que você acha que é mais difícil? Amamentar ou trocar fralda?
E eu respondi:
– O difícil é que não acaba.
A despeito de estar me tratando de um quadro de depressão pós-parto com uma certa ranzinzice como pano de fundo, endosso ainda hoje a lucidez da minha resposta na época.
O fato das mulheres estarem avaliando a questão de ter ou não filhos está intimamente relacionado ao eterno ciclo solitário do cuidar e de se responsabilizar pela vida um ser humano.
Difícil não é trocar fraldas, difícil é sentir-se presa em uma rotina exaustiva e imprevisível, da qual não se pode abrir mão. É não poder contar nem com a “ajuda” do pai, é sobre a falta da já limitada rede de apoio, que em vez de apoiar, mais atrapalha e critica.
Difícil não é amamentar (quer dizer, é sim, mas eu vou dizer que não para manter a lógica narrativa deste texto). Difícil é renunciar a sua própria identidade, não saber mais quem você é (um peito? um colo? um nada?), é saber que a sua liberdade está condicionada a uma enorme lista de afazeres e combinados prévios.
Retomar uma aula de pilates ou ir ao shopping comprar uma calça jeans se tornaram atividades de uma complexidade extrema, as quais era sempre mais cômodo deixar para depois. Díficil é ter que ser exemplo 24 horas por dia. Difícil foi constatar que não se podia nem morrer, deixar de existir, sob pena de ameaçar a sobrevivência do bebê.
Hoje, após 12 anos que me tornei mãe, estou de licença maternidade por 15 dias. Não aquela licença maternidade tão necessária, de 4 ou 6 meses, que nos Estados de bem estar social são de dois anos. Estou de “altas” da maternidade, desde o último domingo, Laura viajou com seu pai.
Experimento um tempo que é “só” meu: de ler, de caminhar, de dormir sem compromisso de acordar às seis por causa da escola. Não preciso me preocupar com o supermercado, o almoço, as refeições, a merendeira. Não preciso correr do trabalho para ir buscar na aula ao meio dia e meia. Não tem trânsito para aula de ginástica artística, piano ou inglês. Não tenho preocupação com dever de casa, com uso excessivo de eletrônicos ou video games. Não tem: “manhê!!” ou “mas, mãe…”.
Não tem nada disso, mas tem a saudade. E sei que ainda é cedo para morrer.